Título: Futuro do FGTS preocupa
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2009, Economia, p. 25

SINAL DE ALERTA

Patrimônio dos trabalhadores pode sofrer sérias baixas por causa da forte ampliação das despesas com obras e das demissões provocadas pela crise econômica mundial

O uso intensivo, pelo governo, dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para bancar projetos sociais na área da habitação e saneamento já é motivo de preocupação entre os conselheiros responsáveis pela administração do patrimônio dos trabalhadores. Só de 2008 para cá o FGTS elevou em R$ 17 bilhões o desembolso para projetos de infraestrutura com a implantação do FI-FGTS, um fundo de investimento destinado a apoiar projetos de longo prazo nessa área. Na semana passada mais um desembolso extra foi autorizado, dessa vez para bancar o pacote habitacional de um milhão de casas. Ao todo, ao longo de três anos, a previsão é de um investimento de R$ 69 bilhões, sendo R$ 12 bilhões a fundo perdido, num momento em que a situação econômica se mostra adversa, com perspectiva de aumento dos saques por conta do desemprego e diminuição da rentabilidade, por conta de uma taxa de juros menor.

¿Nossa preocupação é com a saúde financeira do fundo a longo prazo¿, alertou um conselheiro, que se disse seguro da situação a curto prazo. Ele conta que nos últimos anos foi feito um imenso trabalho de gestão dos recursos do fundo, em parte responsável pela robustez que o patrimônio, acumulado pelos trabalhadores durante décadas, apresenta hoje. Somam-se a isso os bons ventos da economia, responsável pela incorporação, aos recursos do Fundo de Garantia, de uma arrecadação líquida positiva a cada ano. Agora, no entanto, pela primeira vez desde agosto de 2007, quando os saques superaram os depósitos em R$ 55 milhões, o FGTS está correndo o risco de ficar novamente no vermelho. Em 2007 os saques pesados, já absorvidos, foram em função da aposentadoria ¿ o Supremo Tribunal Federal passou a entender que a aposentadoria não extingue o contrato de trabalho, o que levou os aposentados a fazerem saques mensais das suas contas vinculas.

Agora ¿o saque que mais preocupa é o resultante da demissão¿, admitiu outro conselheiro. Pelos dados do FGTS o aumento dos saques por demissão dos trabalhadores já é uma realidade. Embora a arrecadação líquida ¿diferença entre os depósitos e saques ¿ ainda esteja positiva, a retirada de recursos pelos trabalhadores deu um salto.

Em janeiro de 2008 o saque provocado pela demissão foi de R$ 1,936 bilhão, passando para R$ 2,336 bilhões em janeiro deste ano. Em fevereiro a situação se repetiu. Como o mercado contabiliza perda do emprego com carteira assinada de 788.336 postos desde novembro, a perspectiva é de que 2009 volte a apresentar alguns meses com saldo negativo a partir de março.