Título: Amorim manda Bustani de Londres para... Paris
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 15

Amigo do chanceler sai de posto A para posto A; Itamaraty diz que regras permitem.

BRASÍLIA. O Itamaraty iniciou processo de remanejamento nas embaixadas brasileiras no exterior. As mudanças, que deverão ser concluídas até dezembro, têm como justificativa o reforço estratégico em países tidos como prioritários na política externa brasileira e a aproximação do prazo máximo em que os embaixadores podem ficar em determinado posto. O embaixador do Brasil em Londres, José Maurício Bustani, vai agora para Paris, como noticiou ontem Ancelmo Gois em sua coluna.

Afastado em abril de 2002 da direção-geral da Organização para Proscrição de Armas Químicas (Opaq), após um movimento coordenado pelos Estados Unidos, o diplomata foi acolhido pelo presidente Lula como um injustiçado no governo anterior, que pouco teria feito para ajudá-lo. Bustani teimava em dizer que não havia armas químicas no Iraque, desagradando aos americanos.

No governo Lula, Bustani passará por dois postos tipo A: Londres e, agora, Paris. Sua remoção se deve ao tempo em que está na capital do Reino Unido. O prazo médio de permanência de um embaixador é de três a quatro anos, chegando, no máximo, a cinco anos, dizem fontes do Itamaraty. Ele substituirá Vera Pedrosa, que vai se aposentar. Pesou na escolha do chanceler Celso Amorim, principalmente, sua relação pessoal com o embaixador.

Bustani será substituído, em Londres, pelo atual embaixador em Moscou, Carlos Augusto Santos Neves, que, por sua vez, dará lugar a Carlos da Rocha Paranhos, hoje em Genebra.

Na dança das cadeiras, os países são classificados em postos tipo A, B, C e D. Não há impedimento para um embaixador ou um ministro de segunda classe assumir, consecutivamente, dois postos A, como Washington, Paris, Londres e Roma. A obrigatoriedade de trocar de classificação, de uma vaga de nível mais elevado para outro de menor glamour ou vice-versa, só se aplica às carreiras de terceiro-secretário a conselheiro.

São exemplos de países que se enquadram no posto B: Uruguai, Chile, Japão e África do Sul. O posto C inclui, entre outros, Bolívia e Suriname. O D, Haiti, Guiné Bissau e Nova Dehli. Para estimular os ministros e embaixadores a irem para os países enquadrados nas duas últimas categorias, o Itamaraty dá incentivos adicionais. No posto C, o tempo no exterior é contado em dobro para efeito de promoção, e, no posto D, em triplo. Além disso, há possibilidade de regresso ao Brasil uma vez por ano e afastamento do cargo a cada quatro meses, entre outras vantagens.

Chefe do Departamento de Energia vai para a Venezuela

Do ponto de vista estratégico, o remanejamento tem como uma das prioridades a Venezuela. Foi designado para o cargo o atual chefe do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, Antonio José Simões. Na visão do governo brasileiro, a integração energética com os venezuelanos é o núcleo central das relações bilaterais. É o primeiro posto de Simões como embaixador fora do Brasil, assim como ocorreu recentemente com Antônio Patriota, que assumiu a embaixada brasileira em Washington, e Mauro Vieira, na Argentina.

No circuito sul-americano, o atual subsecretário para Assuntos Políticos da América do Sul, Jorge Taunay, vai para Lima, no Peru. Para a Colômbia, foi designado o atual embaixador do Brasil no Canadá, Valdemar Carneiro Leão. Pela sua experiência em negociações internacionais, Carneiro Leão assumirá a importante tarefa de estreitar as relações entre Brasília e Bogotá.

No lugar de Carneiro Leão, vai para Otawa o embaixador do Haiti, Paulo Cordeiro, tido como posto D no jargão da diplomacia, dado os níveis de dificuldades que existem naquele país. A embaixada em Porto Príncipe será ocupada pelo chefe da Divisão de México, América Central e Caribe, Igor Kipman.