Título: Para ter escape, Congonhas encurtará pistas
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 15

Jobim anuncia redução nos dois lados das pistas do aeroporto, o que restringirá operação de Airbus e Boeing.

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou ontem que as duas pistas do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, vão ficar ainda mais curtas, a fim de garantir a criação de uma área de escape no pouso e na decolagem. A pista principal passará a funcionar a partir de amanhã com 300 metros a menos, ficando com 1.640 metros; e a secundária, com apenas 1.195 metros (menos 240 metros). Na prática, a medida vai restringir a operação de aviões de grande porte, como os Airbus da TAM e os Boeing da Gol, na pista principal. Essas aeronaves não poderão operar com capacidade máxima de passageiros e carga. Na pista auxiliar, não poderão mais pousar.

Fontes do governo e do setor afirmam que as normas foram baseadas em estudo encomendado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Táxi Aéreo (Sneta). Seu presidente, José Afonso Assumpção, encontrou-se anteontem com Jobim.

Norma contraria decisão anterior de transferir jatinhos

Técnicos do governo apontam uma contradição na nova decisão do Ministério da Defesa. Eles explicam que, com a restrição, a pista secundária somente poderá ser utilizada por jatinhos e aeronaves da aviação regional (de até 50 lugares). Essa decisão está na contramão das resoluções do Conselho de Aviação Civil (Conac). Em julho, depois do acidente com o avião da TAM, o conselho, formado por ministros, resolveu esvaziar Congonhas, com o fim das escalas e conexões, e determinou a transferência dos jatinhos para Jundiaí.

- O sindicato sempre defendeu essa tese. Depois que nossas operações foram reduzidas em Congonhas, resolvemos aprofundar estudos sobre as condições do aeroporto, que passou a receber aviões incompatíveis com suas limitações - disse o superintendente do Sneta, Fernando Adalberto.

Fontes ligadas às companhias também criticam a decisão de Jobim, sobretudo pelo fato de ter sido motivado por um estudo de uma parte interessada em operar em Congonhas, as empresas de táxi aéreo. A norma divulgada ontem proíbe o pouso e a decolagem na pista auxiliar de aviões de grande porte, ou seja, aviões com asas acima de 24 metros de cumprimento e distância entre a rodas do trem de pouso superior a seis metros.

- O limitador de uma pista não pode ser somente esses critérios. É preciso considerar a capacidade de frenagem do avião - disse um especialista.

Por esse raciocínio, o Boeing 737-800 poderia usar a pista auxiliar, pois foi fabricado para pousar em pistas de 800 metros. A assessoria do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias informou que foi pega de surpresa e que só vai se manifestar depois de analisar a medida, técnica e juridicamente. Jobim disse que conversou com o presidente da Gol, Constantino Júnior, e que sua assessora Solange Vieira falou com representantes da TAM. Segundo ele, as companhias não se opuseram.

- Estamos mostrando de forma objetiva, além das modificações que o Conac determinou, que o princípio da segurança é a base de todo o processo de alteração da malha aérea brasileira - disse Jobim, acrescentando que cada empresa terá de ajustar seus aviões às novas restrições, ou reduzindo o número de passageiros ou a carga.

A assessoria do ministro negou que o estudo do Sneta tenha motivado a decisão e disse que os trabalhos foram feitos em conjunto com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Infraero e com Solange Vieira. Em nota, a TAM afirmou que os pousos e decolagens com as aeronaves Airbus A319 e A320, que compõem a frota da companhia, serão feitos exclusivamente na pista principal. De acordo com o texto, apenas 2% dos vôos operados pela TAM em Congonhas poderão ser afetados com a nova configuração das pistas.