Título: Furacão no Texas leva os preços do petróleo a novo recorde: US$80,09
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Fonte: O Globo, 14/09/2007, Economia, p. 26

Opep diz que dólar fraco frente ao euro contribui para avanço da cotação.

NOVA YORK, LONDRES e VIENA. Os preços do petróleo fecharam ontem acima de US$80 em Nova York, um recorde histórico, depois que o furacão Humberto interrompeu a produção de algumas refinarias no Texas. Na quarta-feira, o barril chegou a ser negociado acima de US$80 durante o pregão, em decorrência da queda nos estoques de petróleo nos Estados Unidos, mas recuaram depois a US$79,91, também recorde.

O barril do tipo leve americano para entrega em outubro avançou 0,22%, para US$80,09, na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês). Durante o pregão, foi negociado a US$80,20. Na véspera, a commodity havia subido mais de 2%. Apesar do salto, em valores corrigidos pela inflação, o barril ainda está abaixo do pico atingido no início dos anos 80, após a revolução no Irã. Conforme o índice de correção, o barril de US$38 da época valeria entre US$96 e US$101 hoje.

Na Bolsa Intercontinental de Futuros, em Londres, o barril do tipo Brent acabou recuando 0,36%, para US$77,40.

Para diretor, considerando inflação, não há recorde

A cotação da commodity continuou subindo mesmo depois de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) ter anunciado, na terça-feira, que decidiu elevar sua produção em 500 mil barris diários, devido ao temor de que os altos preços do produto prejudiquem a economia global. Muitos analistas se dizem perplexos com a escalada de preços, argumentando que esta é decorrência de uma onda de compras especulativas. Eles afirmam que a demanda não sustenta esses preços altos.

A Opep também vê paralelo entre o recorde do petróleo e o recuo do dólar frente ao euro. O cartel afirmou ontem que não tem o poder de controlar as cotações do produto, apesar de responder por 77,2% das reservas conhecidas e controlar 43,3% da produção.

- Não controlamos o mercado, não controlamos os preços - afirmou Hasan M. Qabazard, diretor de Pesquisa da Opep, em Viena.

Ele disse que há fatores que nada têm a ver com oferta e demanda, como especulação financeira, conflitos geopolíticos ou alterações climáticas. Qabazard também citou a crise das hipotecas de alto risco (subprime) nos EUA, cujo impacto na economia global ainda é incerto, e a desvalorização da moeda americana, afirmando que "a depreciação do dólar prejudica nossas economias". O petróleo é negociado em dólares, e a desvalorização da moeda afeta os exportadores.

Mohamed Hamel, diretor de Estudos de Energia da Opep, afirmou que, considerando-se a inflação, não há, no momento, recorde do petróleo. Calculado em euro, o barril do produto está em torno de 50, cerca de 10% abaixo dos níveis máximos registrados em 2006.

Grandes fundos apostaram na alta do petróleo

A Opep também pediu que os países invistam na construção de refinarias, já que gargalos no refino contribuem para a alta de preços.

- Este é certamente um novo território para o petróleo e, se continuar, terá impacto na economia - disse Victor Shum, analista de energia na consultoria Purvin & Gertz.

Para analistas, boa parte da alta nos preços se deve a compras por grandes fundos de investimento. O recuo do dólar frente às principais moedas também contribuiria para isso.

"A maioria das grandes instituições financeiras apostou na alta do petróleo, e cada novo patamar testado equivale a lucros substanciais", afirmou em nota Simon Wardell, analista da Global Insight.