Título: Renan toma jatinho da FAB para destino incerto
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 15/09/2007, O País, p. 8

Relator de processo do caso Schincariol no Conselho, petista diz que não ouvirá depoimentos para redigir parecer.

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), saiu ontem de Brasília para descansar com a mulher, Verônica, num avião da FAB - mordomia garantida aos presidentes dos Poderes - sem responder a aliados se vai ou não se afastar temporariamente do cargo, o que já começa a incomodar setores do governo. A expectativa agora é que a possibilidade de a segunda representação contra Renan no Conselho de Ética ser arquivada na próxima semana poderá tirá-lo da defensiva.

Os articuladores de sua absolvição consideravam ontem que o senador se beneficiou do apoio do Executivo e de amigos, e agora estaria tentando ignorar o acerto de pacificar o Senado, patrocinado, entre outros, por José Sarney (PMDB-AP) e a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA).

Aliados insistem no afastamento do senador

Se depender do petista João Pedro (AM), relator da segunda representação contra Renan - a de que ele teria beneficiado a Schincariol em negócio que a cervejaria fez com seu irmão Olavo Calheiros (PMDB-AL) -, o processo terá rito sumário no Conselho. Ele disse ontem que não pretende ouvir ninguém antes de apresentar seu relatório, previsto para terça-feira. O petista não confirma, mas seu parecer deve ser pelo arquivamento, com chances de ser aprovado, pois muitos senadores discordaram dessa representação.

Há quem acredite, no governo e no PMDB, que se Renan não atender aos apelos por um breve afastamento, pode pôr em risco seu futuro, porque precisará de apoio devido aos demais processos que tramitam no Conselho. Na noite de quinta-feira, Renan disse a senadores que pensaria na hipótese, mas admitiu, em conversas reservadas, o temor de ficar ainda mais vulnerável fora do cargo.

Mesmo que decida sair de férias ou se licenciar do cargo de presidente, Renan não terá como impedir o prosseguimento dos processos no Conselho. A informação foi confirmada pela secretária-geral da Mesa do Senado, Cláudia Lyra, que citou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo a continuidade, na Câmara, da ação por quebra de decoro parlamentar contra o ex-deputado José Janene (PP-PR), em 2006, mesmo sob licença médica. Renan saiu de Brasília sem revelar seu destino e sem dar entrevistas. Em Maceió, as luzes de seu apartamento, em Ponta Verde, estavam apagadas e havia informações de que ele poderia estar numa fazenda, em Murici.

Relator no Conselho diz já ter convicção formada

Mas, no plenário, ainda era assunto dos poucos presentes. João Pedro informou que deverá se basear única e exclusivamente nas denúncias publicadas pela revista "Veja" e na defesa apresentada por Renan.

- Tenho poucos elementos, mas já tenho uma convicção formada. Além do mais, não posso pedir que a Receita Federal aprofunde as investigações - adiantou o relator.

Irritado com as especulações, o relator reclamou da tribuna:

- Ninguém vai dizer como devo escrever. Estou construindo esse parecer com assessores competentes. Será uma peça pública. Mas, até lá, ninguém vai interferir no meu juízo e nos meus valores.

Aliados de Renan foram à tribuna externar solidariedade a ele e condenar a pressão pela renúncia ou licença do cargo.

- Não agüento mais a imprensa perguntar toda manhã se o presidente Renan vai renunciar. Ele já disse que não renuncia, sujeitou-se democraticamente à votação em plenário, numa sessão fechada. Quando pensamos que havia acabado e que a democracia tinha sido exercida, o problema continuou no dia seguinte - reclamou Wellington Salgado (PMDB-MG).