Título: Meio milhão abandonou a agricultura
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 38

Mecanização e crise do setor levam ao recuo do emprego no campo

RIO e PORTO ALEGRE. A atividade agrícola vem perdendo força no mercado de trabalho, conforme mostrou a Pnad/2006. No ano passado, a queda se acentuou: mais de meio milhão de trabalhadores deixou essa atividade, o que reduziu para 20,5% a sua participação no total de pessoas ocupadas no país. Segundo Cimar Azeredo, que coordena a pesquisa do IBGE, o processo de esvaziamento da atividade agrícola já é uma tendência.

- A mecanização no campo acaba absorvendo menos trabalhadores rurais. É uma tendência histórica. A crise também ajudou a diminuir o número de trabalhadores nesse setor - disse Azeredo.

Desemprego caiu quase à metade em alguns estados

A Região Sul é a que vem sofrendo mais com esse recuo. De 2005 para 2006, a participação dos trabalhadores ligados à agricultura no total de ocupados baixou de 22,1% para 21,2%. Deodoro Medeiros, 59 anos, trabalhador rural em Bagé, foi um dos expulsos do campo. Está desempregado há dois meses. Semi-analfabeto, tem dificuldade para voltar a encontrar trabalho:

- Quando procuro emprego, todo mundo me pergunta se tenho segundo grau (Ensino Médio). Eu mal estudei. As máquinas no campo substituíram o que eu fazia. Eu puxava carroça, arava e fazia outras lidas manuais. Esse tempo acabou. E, com a minha idade, fica difícil conseguir trabalho.

Segundo o diretor técnico da Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Rio Grande do Sul, Paulo Silva, estão cadastradas 325 mil propriedades rurais no estado, nas quais 18% da população gaúcha trabalham. Daquelas, 10% são grandes propriedades, 50% de médio porte, e o restante é de pequenas fazendas.

- São as pessoas que trabalham nas pequenas propriedades que sentem o desemprego no campo - diz.

O drama dos trabalhadores rurais é menos intenso nas regiões Norte e Nordeste. Em Roraima, por exemplo, a taxa de desemprego agrícola passou de 12,4% da força de trabalho para 7,9%. No Amapá, caiu de 10,7% para 6,2%. E no Rio Grande do Norte, mais uma queda: de 10,6% para 8,9%.