Título: Mão-de-obra infantil registra queda, mas 5,1 milhões ainda trabalham
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 38

RETRATOS DO BRASIL/PNAD-2006: Aos domingos, menino fica 18 horas no emprego.

Área urbana concentra 59,1% desse contingente de crianças e jovens.

A estatística de trabalho infantil no Brasil retomou a trajetória de queda iniciada há seis anos e interrompida em 2005. Ainda que a Pnad tenha registrado uma redução no ano passado, o Brasil continua com um contingente de 5,1 milhões de crianças e jovens no trabalho precoce, contra 5,4 milhões, em 2005. Segundo o IBGE, o nível de ocupação desse contingente, que vai de 5 a 17 anos, caiu de 12,2%, em 2005 para 11,5% no ano passado.

- O Brasil é um caso de sucesso internacional no combate ao trabalho infantil, mas ainda não conseguiu erradicá-lo na informalidade. As crianças e jovens continuam trabalhando na agricultura, em trabalhos domésticos e nas ruas dos grandes centros urbanos - denuncia a diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo.

Felipe Silva é um caso típico desse trabalhador precoce comum nos grandes centros urbanos. Desde os 13 anos, ele trabalha como cobrador numa van que circula pelo Rio. Sua carga horária chegava a 54 horas semanais, já que a rotina ia de segunda-feira a sábado. Hoje, com 16 anos, Felipe trabalha só nos fins de semana, mas chega a ficar 18 horas no trabalho aos domingos. Seu rendimento diário não ultrapassa R$50.

Limeira, em São Paulo, é um exemplo da nova modalidade de trabalho infantil que vem sendo detectada no país. Crianças e jovens desse município chegam a trabalhar 6,9 horas por dia montando, soldando e cravando jóias e bijuterias, que são vendidas nas grandes lojas do Brasil e do exterior.

Segundo o médico Rodolfo Vilela, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest, SP), em 22 escolas estaduais, 27% dos alunos com menos de 17 anos estavam envolvidos na produção domiciliar de jóias e bijuterias em 2006. O Brasil é considerado um dos maiores produtores e exportadores de jóias folheadas do mundo, e Limeira é o maior pólo da América Latina. Constatou-se ainda que esses jovens já contraíram doenças típicas do mundo do trabalho, como as Lesões por Esforço Repetitivo (LER), e muitos perderam até as impressões digitais.

Número é "inaceitável", segundo especialista

Segundo a Pnad, o trabalhador infantil hoje é oriundo de famílias com rendimento médio de R$280 per capita. São trabalhadores precoces sujeitos a uma carga horária semanal que pode chegar a 20 horas de trabalho, e a maioria deles (59,1%) residia em áreas urbanas em 2006. Já na área rural, onde o trabalho infantil representava 40,9% do total das crianças e jovens, 9,1% não sabiam ler e escrever, enquanto o percentual dos que não freqüentavam a escola chegava a 17,8%.

- Ainda que a incidência de trabalho infantil tenha caído, é inaceitável que o país, com a experiência acumulada dos últimos 15 anos, continue patinando no patamar de 5 milhões de crianças e jovens trabalhando - diz a diretora do Fórum Nacional para a Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Isa Maria de Oliveira.