Título: Saneamento muito longe da universalização
Autor: Melo, Liana e Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 40

Serviço não atende mais da metade dos domicílios das regiões Nordeste e Centro-Oeste.

RIO e SIRINHAÉM (PE). Apesar dos avanços, a falta de investimentos, aliada à má gestão e a uma política tarifária inadequada, mais uma vez fez com que o acesso ao saneamento básico apresentasse números decepcionantes na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2006), segundo especialistas. Enquanto serviços como energia elétrica estão prestes a alcançar a universalização no Brasil, com índice de 97,7%, o percentual de domicílios com esgotamento sanitário adequado atingiu 70,6% no ano passado, uma alta discreta frente aos 69,7% registrados em 2005.

O número, no entanto, cai para menos da metade (48,5%) quando o atendimento é realizado por meio de rede coletora. E mais ainda, para 44,5%, nos domicílios da Região Centro-Oeste (incluídas rede coletora e fossa séptica).

- Embora a falta de investimento seja uma das causas da pouca eficiência desse serviço, o grande problema é a falta de perspectiva de médio e longo prazos. Anunciar investimentos não é suficiente. É um setor que passa sempre por altos e baixos no que diz respeito a projetos. O setor precisa, acima de tudo, de boa gestão - afirmou o professor Léo Heller, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Abastecimento de água cresceu em todas as regiões

Apesar do crescimento de 3,3% no número de domicílios atendidos por rede coletora e de 6,1% entre os que utilizavam fossa séptica - considerados meios adequados de saneamento -, os estados de Norte e Nordeste apresentaram queda em relação a 2005. A queda foi puxada pela redução das unidades com fossa séptica. O percentual de lares atendidos caiu de 52,7% para 52,1%, nas duas regiões.

Em Pernambuco, como na maior parte do Nordeste, saneamento é serviço de luxo, e água encanada também não é fácil nas áreas rurais. No município de Sirinhaém - a 76 quilômetros da capital -, Antônia Maria do Nascimento ainda faz longas caminhadas para lavar roupa no Rio Água Fria, pois não dispõe de torneira em casa. O sítio onde mora tem uma cacimba comunitária, onde moradores pegam água para beber, cozinhar e até tomar banho.

Antônia afirma que vai se mudar para um local onde já estão sendo instaladas tubulações do sistema público de abastecimento. Mas tem medo:

- Não sei se vou ter dinheiro para pagar a conta.

Houve, porém, crescimento do número de domicílios atendidos por abastecimento de água. No país, a alta foi de 0,9 ponto percentual, para 83,2%. O melhor avanço foi no Norte, onde 56,1% dos lares passaram a ser atendidos, contra 54,6% em 2005. A região, no entanto, ainda apresenta, proporcionalmente, o pior resultado.