Título: Mais crianças de 5 a 6 anos estão na escola
Autor: Melo, Liana e Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 40

RETRATOS DO BRASIL/PNAD-2006: Pesquisa mostra que 75,5% dos universitários estão em faculdades particulares.

Escolarização atinge 84,6% nessa faixa etária. Qualidade do ensino não acompanha a massificação do acesso.

RIO, RECIFE e FLORIANÓPOLIS. O Brasil vem acumulando vitórias na luta pela universalização do ensino. A mais expressiva delas é o fato de o percentual de crianças na escola - de 5 a 6 anos - ter crescido para 84,6%, em 2006, o que significou um incremento de três pontos percentuais em relação a 2005. O resultado já reflete a decisão de alguns municípios, como o Rio, de antecipar a aplicação da lei que cria a obrigatoriedade do ensino fundamental em nove anos. A adequação deve ser feita até 2010. Isso explica por que a Pnad constatou que, no ano passado, 5,4 milhões de crianças estavam na escola. O esforço de universalização, no entanto, vem sendo alcançado à custa do comprometimento da qualidade na educação.

- É um mérito do governo a escolarização ter crescido, mas não podemos esquecer que, até agora, só conseguimos vencer a batalha do acesso - cutuca o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sergei Soares.

Em 2006, dos cerca de 173 milhões brasileiros com 5 anos ou mais, 54,9 milhões eram estudantes. Isso representou um aumento de 0,9% em relação a 2005. No Norte e no Centro-Oeste o crescimento foi ainda mais expressivo: 1,3% para ambas as regiões. Mas é em Santa Catarina, no Sul, que a Pnad constatou o maior índice de universalização: 99%.

Orçamento educacional em SC supera o exigido por lei

As irmãs catarinenses Djuly e Sabrina Gava são exemplos do empenho do governo estadual em manter as crianças no colégio. As duas estudam na escola Pero Vaz de Caminha, de Florianópolis, uma das que aderiu ao Programa Escola Aberta, voltado para famílias carentes. O estado também ostenta excelente desempenho em termos de freqüência escolar de crianças de 7 a 14 anos. É que Santa Catarina investiu, em 2006, 30% do seu orçamento em educação contra os 25% exigidos por lei.

No extremo oposto do país, em Pernambuco, ainda há mais de 100 mil crianças fora da escola, como os irmãos Danázio de Barros: José, Eric e Emerson, com 9, 10 e 11 anos, respectivamente. Este ano, eles não foram à escola um único dia. O pai trabalha no canavial.

Enquanto o governo persegue a universalização, o Brasil ainda convive, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com uma taxa de distorção idade/série de 61,1% no ensino fundamental e de 39,5%, no ensino médio. Os dados são de 2004.

E mesmo que a taxa de analfabetismo tenha caído, de 10,2%, em 2005, para 9,6%, no ano passado, o Brasil ainda convive com 14,9 milhões de analfabetos de 10 anos ou mais de idade. Entre as pessoas com idade igual ou superior a 15 anos, a taxa de analfabetismo recuou menos: 0,6 ponto percentual. Embora longe do ideal, porém, os números foram comemorados por especialistas.

- A taxa de analfabetismo caiu em todas as regiões do país, sobretudo no Nordeste - comentou a consultora do IBGE Vandeli Guerra, que relaciona a retração à influência direta do aumento da escolarização.

Ensino público apresentou recuo de 0,7% em 2006

Em 2006, chegou a 5,8 milhões o número de estudantes universitários. Grande parte deles (75,5%) estava na rede particular. Mas existem pontos fora da curva, como é o caso da ex-babá Elaine Goulart, 28 anos, que acaba de se formar em pedagogia pela Uerj. Com o diploma na mão, seu salário, que girava em torno de R$500, está na faixa de R$2.300.

A migração para as escolas privadas também ocorreu no ensino médio. Segundo a Pnad, o ensino público no Brasil encolheu 0,7% em 2006.