Título: Nos lares, o dobro de computadores em 5 anos
Autor: França, Mirelle de
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 41

RETRATOS DO BRASIL/PNAD-2006: Acesso à internet cresceu, mas preço do serviço ainda é obstáculo para população.

Taxa subiu de 12,6% para 22,4% entre 2001 e 2006, com a ajuda de juros menores, crédito e dólar baixo.

Ele ainda não chega aos pés da televisão, presente em mais de 90% dos lares. Mas, em apenas cinco anos, o percentual de domicílios com computador no país quase dobrou: de 12,6% em 2001 para 22,4% ano passado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2006). Taxas de juros menores, acompanhadas de condições de financiamento favoráveis, dólar mais baixo e redução de alíquotas de importação permitiram que uma parcela da população tivesse acesso a um bem que era considerado um luxo.

Apenas na comparação entre 2006 e 2005 - nos dados que excluem o Norte rural - o avanço foi de 3,5 pontos percentuais, saltando de 18,6% para 22,1%. Ao todo, são 12 milhões de computadores nos lares brasileiros. O crescimento expressivo, porém, não conseguiu atenuar as diferenças regionais. Enquanto no Sudeste 29,2% dos domicílios têm computador, no Norte esse percentual não atinge 10%.

- Há uma desigualdade de renda muito grande, e os números refletem esse cenário. O mapa de exclusão digital acompanha a social - afirmou Rodrigo Baggio, responsável pelo Comitê para Democratização da Informática (CDI).

Já os domicílios com acesso à internet, embora também tenham aumentado - de 13,7%, em 2005, para 16,9% no ano passado -, ainda deixam o Brasil numa colocação muito distante da dos demais países. De acordo com Baggio, na América do Sul, por exemplo, outras nações já atingiram patamares bem mais elevados de acesso à internet, como o Chile, com 42,4%:

- O preço da banda larga no Brasil é impeditivo. E o acesso discado também não está ao alcance de grande parte da população, já que encarece, e muito, a conta de telefone.

Telefonia móvel substituiu as linhas fixas

A família Reis, que mora próxima ao Morro da Providência, no Rio, confirma, com precisão, as estatísticas da Pnad/2006. Há um ano, Hugo, de 16 anos, convenceu a família a comprar um computador para ajudá-lo na escola. Sem comprovação de renda, os pais recorreram a um parente próximo que, com carteira assinada, conseguiu comprar o computador em 24 prestações de R$115, numa grande rede de varejo.

- Meu marido está desempregado, eu só ganho um salário mínimo, mas fizemos esse sacrifício pelo nosso filho. Ainda falta um ano para acabarmos de pagar - disse a mãe, Maria Lindalva.

A decepção, no entanto, ficou por conta da internet. Para ter acesso à rede e permitir que o filho pudesse fazer suas pesquisas para a escola, a família precisou desembolsar R$62 mensais pela banda larga. Em pouco tempo, porém, cancelou o serviço:

- Eu pensei que, ao comprar o computador, ele já viesse pronto, com internet e tudo - desabafou Lindalva.

Hugo, agora, usa os computadores da Escola de Informática e Cidadania mantida pelo CDI no Instituto Central do Povo (ICP), na Gamboa.

- Ele (o computador) não serve para muita coisa agora - lamentou o estudante.

Embora reconheça os obstáculos, o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, considerou os números surpreendentes:

- O crescimento do número de computadores é impressionante. O acesso está crescendo a uma taxa acelerada.

Outro dado importante é o número de domicílios que têm apenas telefone móvel. O percentual saltou de 7,8% em 2001 para 27,8% em 2006. Já os lares somente com linha fixa caíram de 27,9% para 11%, durante o mesmo período.