Título: País ainda está longe dos desenvolvidos
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 42

Brasil precisaria crescer 4% anuais durante 15 a 20 anos para reduzir hiato.

Apesar de avanços em vários indicadores - de emprego a escolarização - apresentados na Pnad/2006, o país ainda tem um longo dever de casa a fazer, se quiser entrar no time dos países desenvolvidos. Segundo especialistas, as melhorias precisam ser sustentadas por investimentos, programas de transferência de renda e projetos voltados para educação e saúde - por vários anos.

Marcelo Neri, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a renda per capita cresceu no ano passado 9,1% - acima dos 7,2% do rendimento médio do trabalhador. Para ele, se essa taxa se sustentasse por dez anos, o país mais que dobraria a renda do brasileiro numa década. É um caminho para estar entre os países desenvolvidos:

- Tenho dúvidas se esse ritmo se sustenta. Mas o país, para crescer, deve ainda dar mais crédito ao produtor, a exemplo do que acontece com o crédito ao consumidor; fazer uma reforma trabalhista e implementar ações de inclusão digital, além de mais investimento em educação.

Um salto no desenvolvimento para o Brasil está atrelado ao ritmo de crescimento da atividade econômica, acrescenta Renato Bauman, economista da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Na opinião dele, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas pelo país) deveria subir 4% anuais por 15 a 20 anos:

- Isso para reduzir o hiato entre oferta de postos de trabalho e demanda por emprego de uma forma sustentável. Dessa maneira, haveria maior absorção da mão-de- obra.

Outra maneira de mudar a posição do Brasil no ranking mundial é investir em inovação tecnológica.

- Há uma fronteira tecnológica. Se, além de reduzir a brecha de emprego, conseguíssemos diminuir o hiato tecnológico, a economia avançaria 6% ao ano - disse Bauman.

Programas de transferência de renda e maior acesso a saúde e educação são o caminho para o crescimento, na análise de Ana Flávia Machado, pesquisadora visitante do Centro Internacional de Pobreza, vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

- Ainda temos muito a avançar. No ensino fundamental, já houve universalização. Mas ocorre, naturalmente, queda no desempenho dos alunos. É preciso ter mais critérios.

Os números da Pnad podem valer ao Brasil um avanço no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da ONU, prevêem os analistas.

- Esses dados positivos podem mudar a posição do país no ranking. No entanto, é preciso observar os avanços dos outros países - ponderou Ana Flávia.