Título: Legado de FH é a educação. O de Lula, a renda
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 42

RETRATOS DO BRASIL/PNAD-2006: Moradias foram mais bem atendidas de 1995 a 2002. Gestão petista aumentou formalização.

Era do ex-presidente foi mais eficiente em questões estruturantes. Já o governo atual teve mais êxito em reduzir desigualdades.

Ao tornar públicos indicadores socioeconômicos de 2006, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) permite uma comparação entre o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reeleito há quase 12 meses, e os oito anos prévios, de gestão Fernando Henrique Cardoso. Da observação dos dados, surgem duas conclusões. Uma é que a era FH foi mais eficiente em questões estruturantes - como acesso a serviços básicos e à educação. Outra é que a fase inaugural do petista no poder teve mais êxito no campo do trabalho e da renda, elevando o poder de compra e reduzindo mais fortemente as desigualdades.

A avaliação dos principais indicadores mostra que o grande legado de FH é o avanço na educação. A taxa de escolarização das crianças de 7 a 14 anos aumentou 16,8%, levando o país a entrar definitivamente no campo da universalização. Lula avançou apenas 0,8%.

Mesmo que se pondere que o atual presidente já herdou uma taxa elevada, e não poderia ter desempenho semelhante, FH leva vantagem. A taxa de escolarização entre 15 e 17 anos, que deu salto ainda maior com os tucanos, ainda era muito baixa em 2002. Lula só avançou 1,2%.

A moradia dos brasileiros também foi mais bem atendida entre 1995 e 2002. Foi mais rápida a expansão das redes de água e esgoto. A privatização acelerou o acesso à comunicação, com o número de lares com telefone triplicando. O Plano Real permitiu ainda uma rápida modernização das residências, com a ampliação do número de geladeiras, televisores e lavadoras.

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Porém, os tucanos não ofereceram soluções às questões do mercado de trabalho e do crescimento econômico menos dinâmico, o que gerou prejuízo aos trabalhadores. Naqueles oito anos, foram cinco de perdas salariais, sendo o auge os 7% de 1998. Os indicadores de Lula são de recuperação, após um 2003 recessivo, chegando à alta de 12,13% do biênio 2005-2006.

Também se destaca na gestão petista o mercado de trabalho, devido à redução da taxa de desemprego, mas, sobretudo, porque houve aumento da formalização e da capacidade de a economia gerar vagas para atender à demanda por trabalho. Esta é medida pelo nível de ocupação, que chegou a cair a 54,8% em 1998, e agora voltou ao patamar do início do Real.

No caso da qualidade, a ocupação registrada (com carteira, militar, servidor e empregador) representava 42,6% em 1995, passou a 42,9% oito anos depois e subiu para 46,9% nos quatro primeiros anos de Lula. O dado é bom, mas ainda distante do ideal. O que também ofusca o fato de o presidente ter entregado mais de dez milhões de ocupações no primeiro mandato - pois a maioria delas foi informal.

O bom cenário no mercado de trabalho se reflete em forte aumento do consumo das famílias, que hoje forma a base da expansão econômica. Aliada à política de transferência de renda, a conjuntura também favoreceu uma queda mais acelerada das desigualdades. Enquanto a queda entre 1995 e 2002 foi de 3,84%, de 2003 a 2006 chegou a 3,91%.

Para o economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociais (Iets), é fato que cada governo teve seus pontos fortes. Mas o que chama a atenção, disputas ideológicas à parte, são a continuidade e o aperfeiçoamento dos avanços socioeconômicos.

- Foi mantida a racionalidade econômica, e dá-se cada vez mais ênfase ao social. Temos uma direção e estamos seguindo, porque amadurecemos como sociedade.