Título: O mal da miséria
Autor: Amora, Dimmi
Fonte: O Globo, 16/09/2007, Rio, p. 18

Estado do Rio registra cem mil casos de tuberculose em 7 anos, a maioria nas favelas.

Considerada o "mal do século XIX", a tuberculose já teve registrados, nos primeiros sete anos do século XXI mais de cem mil casos no Estado do Rio de Janeiro. O estado tem a maior incidência de casos na federação, mas não sabe onde está a maior parte de seus pacientes. Entre 2001 e 2006, 44% dos pacientes ou abandonaram o tratamento ou a ficha deles não foi preenchida, de acordo com dados do DataSus - sistema de informação governamental da saúde.

A taxa de infecção no estado, quase cem por grupo de cem mil habitantes, é o dobro da média nacional. O mesmo número é também 20 vezes superior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS): cinco casos para cada grupo de cem mil. Na região metropolitana do Rio se concentra a maioria dos casos.

O número oficial de mortes já chegou a 3.455 entre 2001 e 2006. Mas, de acordo com Carlos Basília, que lidera a ONG Fórum Tuberculose, o número está subestimado devido aos problemas de notificação. Segundo ele, as estimativas são de que pelo menos mil pessoas morram anualmente da doença no Estado do Rio de Janeiro.

As áreas mais afetadas são as favelas. Na Rocinha, por exemplo, de acordo com o vereador Carlos Eduardo, presidente da Comissão de Saúde da Câmara, são 50 novos casos por mês. Isso ocorre porque o agente causador da doença, o Bacilo de Koch, se propaga pelo ar. Ele também encontra mais facilidade de se propagar em áreas de pouca ventilação e sem a incidência de sol.

Para tentar reduzir a quantidade de casos na favela, a Secretaria municipal de Saúde implantou no local a chamada estratégia DOT, que é o tratamento supervisionado. Os doentes tomam a medicação - que dura seis meses - na frente dos agentes de saúde. Isso fez com que o índice de desistência do tratamento, que é alto, fosse reduzido. Solange Cavalcante, gerente de pneumologia da Secretaria municipal de Saúde, fez uma tese de doutorado mostrando que essa estratégia vem dando resultados.

- Essa estratégia é usada desde 1999 e atinge hoje 3 mil pacientes, cerca de 45% dos casos no município. Ela ajudou a reduzir em 20% o número de casos nos últimos sete anos - disse Solange.

Mas, de acordo com o vereador, uma simples medida poderia ajudar ainda mais:

- O Posto de Saúde Albert Sabin, dentro da Rocinha, não tem pneumologista. A pessoa tem que descer a favela, pegar um ônibus e atravessar o Túnel Dois Irmãos para chegar até o Posto Píndaro de Carvalho, na Gávea, para ser atendido - reclamou o vereador.

Paciente internado custa R$20 mil

O tratamento da tuberculose deveria ser feito nos postos de saúde, mas cada vez mais pacientes só conseguem ter identificada a doença nos hospitais. Nos primeiros anos deste século já foram 13.128 internações da doença no Rio. De acordo com Hedi Oliveira, diretora do Hospital Estadual Santa Maria (HESM), especializado no tratamento da tuberculose, cada paciente internado custa, em média, R$20 mil ao mês. Na unidade, eles ficam internados cerca de dois meses. O Sistema Único de Saúde paga, em média pela internação, apenas R$956,52.

Multiplicado o custo do paciente no HESM pelo número total de internados no Rio neste século, o gasto do estado com estes pacientes pode ter chegado a meio bilhão de reais. Enquanto isso, o custo dos medicamentos para tratar um paciente que não teve necessidade de internação é de apenas R$84,60 pelos seis meses de tratamento.

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