Título: Antigo parceiro, Japão perde espaço
Autor: Paul, Gustavo e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 16/09/2007, Economia, p. 34
Em 16 anos, importações daquele país para o Brasil caíram de 7% para 4%.
Entre janeiro e julho deste ano, as importações vindas da China cresceram nada menos do que 27,95%. São itens tão variados como componentes eletrônicos, máquinas industriais e telas de cristal líquido. Se antes eram têxteis e brinquedos que ameaçavam - estes últimos, alvo de recentes recalls - hoje a pauta de importação da China tem como marca a diversificação. Mas, esse avanço a passos largos dos produtos chineses, que tanto assusta os empresários brasileiros, é em parte resultado da expansão das vendas da China para todo mundo. E, também, em alguns setores, como o eletroeletrônico, uma conseqüência da substituição de tradicionais fornecedores, antes sediados em outros países do sudeste asiático.
Ao mesmo tempo em que a China avança, o Japão, até então o mais tradicional parceiro do Brasil na Ásia, perde espaço nas nossas importações. Entre 1990 e 2006, os países asiáticos viram sua participação nas compras brasileiras crescerem de 10,18% para 25,05%. Na China, o salto foi de 0,82% para 8,75%. No Japão, houve recuo, de 7,17% para 4,20%.
- A economia japonesa atravessou uma recessão e, recentemente, tem crescido só modestamente, o que explica a perda de espaço do país na nossa pauta - afirma Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). - A China, por outro lado, está em franca expansão. E isso coincidiu com o aumento forte das importações brasileiras, que ocorreu nos últimos anos. A China foi, assim, o país que mais se beneficiou desse momento no Brasil.
Ribeiro ressalta, porém, que não é possível saber se houve uma substituição de fornecedores japoneses por importações da China, no caso específico do Brasil. Porém, lembra o economista, grandes multinacionais japonesas, que vendem para o mundo inteiro, têm optado por deslocar parte de sua produção para a China, como forma de baratear os custos.
A economista Lia Valls, da Fundação Getulio Vargas, aponta um setor em que esse processo de substituição é mais claro: componentes e materiais eletroeletrônicos.
- E isso não é só para o Brasil, é para o mundo inteiro. Para nossos empresários, a origem da importação não deve ser fonte de preocupação. Qual a diferença de importar de Japão, Coréia do Sul ou China? Ainda mais num setor em que há muito tempo se discute o quão frágil é a competitividade brasileira.
Os dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) confirmam que a China, nesse setor, tem roubado espaço de seus vizinhos asiáticos nas vendas para o Brasil. As compras do Sudeste da Ásia cresceram 13,9% no primeiro semestre deste ano. Na China, o avanço foi de 35,7% e nos demais países da região, de apenas 1,2%. O resultado foi que o Sudeste da Ásia manteve sua participação na pauta de importações de produtos eletroeletrônicos do Brasil: 60%. Porém, com a China avançando de uma fatia de 22% para 26%. E os demais países da região recuando de 38% para 34%.
China tem tecnologia, afirma especialista
Em alguns produtos do setor eletroeletrônico, o avanço chinês é ainda mais claro. A importação de equipamentos industriais da China cresceu 71,1% no primeiro semestre. Por outro lado, as compras desse item dos demais países do Sudeste da Ásia caíram 19,4%.
Lia Valls afirma que faz parte da estratégia de multinacionais se instalarem na China em busca de custos mais baixos. Em muitos casos, essas empresas compram componentes do Japão ou da Coréia do Sul, montam o produto final na China e o exportam para terceiros países. As estatísticas do comércio chinês mostram que as importações vêm principalmente de Japão (14,6%) e Coréia do Sul (11,3%).
José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destaca que a China já não é mais uma mera produtora de bens intensivos em mão-de-obra e de baixo conteúdo tecnológico.
- Dizem que a China não tem tecnologia. Mas isso não é verdade. A China comprou ou copiou, mas o fato é que hoje tem, sim, tecnologia. E exporta bens de cada vez maior valor agregado.