Título: Um novo horizonte
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 17/09/2007, O Globo, p. 2

O governo Lula é o grande beneficiário da decisão do Senado de absolver seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL). Com a derrota da oposição, que tinha como meta fazer seu sucessor, abriu-se uma clareira no caminho da aprovação da prorrogação da CPMF no Senado. Integrantes da oposição reconhecem que, apesar do fechamento de questão, terão baixas em suas bancadas.

O governo tem uma maioria escassa no Senado e, se a oposição tivesse ganhado a batalha que cassaria o mandato do presidente da Casa, se criaria um ambiente de instabilidade que levaria a uma negociação. A mudança no quadro foi percebida de imediato pelo operadores políticos do governo e isso refletiu-se em sua postura. Na noite de quarta-feira, quando ainda pairava uma certa incerteza no ar, o relator da CPMF na Câmara, Antonio Palocci (PT-SP), acenou com uma redução gradual da CPMF de 0,02 pontos percentuais/ano. Na manhã seguinte, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse aos líderes aliados da Câmara que não tinha acordo e que a CPMF deveria ser aprovada sem mudanças.

A absolvição de Renan não seria possível sem votos de senadores do PSDB e do DEM, além dos senadores governistas, na medida em que senadores do PT, do PDT, do PSB e do PMDB se colocaram publicamente a favor da cassação de seu mandato. O mesmo ocorre agora, em relação à CPMF, que deverá começar a ser votada pelo plenário da Câmara esta semana, chegando ao Senado em outubro. O líder do DEM, senador José Agripino (RN), reafirmou ontem que seu partido fará obstrução e votará contra a prorrogação da CPMF. O partido fechou questão, mas dirigentes do Democratas avaliam que haverá pelo menos duas baixas na bancada de 17 senadores: os senadores Romeu Tuma (SP) e Edison Lobão (MA), cujos filhos acabam de ser nomeados para cargos no governo federal. Agripino acredita que o PSDB apoiará a posição do DEM, obstruindo e votando contra a CPMF, sobretudo agora que o governo fechou as portas à proposta de compartilhar a receita com estados e municípios. Mas admite que pelo menos três senadores tucanos, de uma bancada de 13, estão em dúvida.

A avaliação entre os líderes aliados é que com cinco votos de senadores de oposição é possível chegar aos 49 votos (maioria constitucional) necessários para aprovar a CPMF, mesmo com baixas nas bancadas governistas.