Título: Renan espera por aval de Lula
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/09/2007, O País, p. 3

Presidente do Senado resiste e quer garantia de que não perderá o cargo se tirar férias.

Antes de tomar qualquer decisão sobre seu futuro político, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) quer falar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda esta semana. Pressionado a tirar férias para pacificar o clima no Senado, Renan resiste. Ele quer avaliar o quadro político com o presidente, para que Lula seja o avalista da decisão que for tomar. De acordo com interlocutores que falaram com Renan neste fim de semana, ele só se afastaria com a certeza de que voltaria a ocupar o cargo. Seu temor é que, na sua ausência temporária, ganhe força a pressão para que renuncie.

Segundo amigos, Renan espera uma sinalização concreta de Lula sobre o que gostaria que ele fizesse. O Planalto já mandou sinais claros ao presidente do Senado que deseja o seu afastamento temporário do cargo para esfriar os ânimos no Congresso e, com isso, facilitar a aprovação da prorrogação da CPMF. Mas Renan continua argumentando que, fora da presidência, ele poderá ficar ainda mais vulnerável.

- Renan está analisando o que vai fazer. Temos que esperar. Essa é uma questão de foro íntimo - voltou a dizer ontem o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Renan não aceita a idéia de uma licença do cargo, pois ficar sem o poder da caneta poderia dificultar sua volta. No máximo, alguns dias de férias. Ainda assim, não tomaria a decisão de imediato, para não parecer que foi forçado pela oposição. Mas amigos próximos acreditam que ele deve mudar de idéia na próxima semana.

- Esta semana, ele garantiu que não tiraria férias. Mas pode ser que, depois de uma semana, ele repense a decisão. Agora, se a oposição radicalizar, complica uma solução para o impasse - disse o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

O presidente do Senado passou o fim de semana em Alagoas. Aliados que telefonaram ontem para Renan, para parabenizá-lo pelo aniversário de 52 anos, acreditam que, depois da conversa com o presidente Lula, ele diminua a resistência. Os conselheiros mais próximos de Renan já demonstram certa impaciência com a postura do presidente do Senado.

Até o senador José Sarney (PMDB-AP), que evitava falar publicamente sobre o assunto, quebrou o silêncio na última sexta-feira, em Natal, onde lançou seu novo livro, "A duquesa vale uma missa". Sarney afirmou que, pelo desgaste das semanas que antecederam a votação no plenário da Câmara, Renan deveria tirar férias.

- Acho que tudo foi desgastante para Renan. Sou a favor de que tire férias para descansar.

Sarney foi um dos avalistas do acordo informal que conseguiu votos suficientes para Renan escapar da cassação, em troca da pacificação do Senado com o seu afastamento temporário do cargo. Por isso, tem demonstrado contrariedade com a resistência do alagoano.

Por telefone, Renan disse a amigos neste fim de semana que viveu um longo "inferno astral" nos últimos quatro meses.

- Espero que esse inferno astral tenha acabado com o meu aniversário! - desabafou.

Senador usará horário de rádio e TV para se defender

Segundo interlocutores, o presidente do Senado resiste, mas não tem uma estratégia clara. Aguarda os acontecimentos desta semana para ver o que acontece. A princípio, definiu apenas que, no plano regional, vai voltar a olhar para a sua base eleitoral. Vai utilizar, inclusive, as inserções publicitárias do PMDB em Alagoas, no fim de setembro, para dar explicações sobre o episódio no rádio e na televisão.

No plano nacional, sabe que precisa diminuir o desgaste de sua imagem, mas ainda não definiu como. A única certeza é que não pode errar mais em sua estratégia. Daí o desejo de conversar com Lula. Em outra frente, está atento para ver o que vem da oposição contra ele.

Renan tem sido alertado por aliados e emissários do governo de que seu maior desafio será fazer o Senado voltar à normalidade, e que seu futuro vai depender da produtividade da Casa. Se o impasse permanecer, ele corre o risco de perder as condições de continuar na presidência. A pauta das próximas semanas está livre de propostas polêmicas, mas na primeira ou segunda semana de outubro estará chegando a emenda de prorrogação da CPMF. Enquanto isso, Renan quer tentar criar fatos positivos. O primeiro é o parecer pelo arquivamento da segunda representação contra ele que será apresentado esta semana pelo senador João Pedro (PT-AM) no Conselho de Ética. No processo, Renan é acusado de favorecer a cervejaria Schincariol.

DURAS CRÍTICAS A RENAN E AO POVO na página 10

ORLA DA ZONA SUL CONTRA A IMPUNIDADE na pagina 15

www.oglobo.com.br/pai