Título: Lula deveria enviar ministro, diz especialista
Autor: Farah, Tatiana e Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 17/09/2007, Economia, p. 16

Walter Maierovitch defende a presença de Tarso Genro ou Amorim em Mônaco.

SÃO PAULO. A diplomacia brasileira é que vai pesar na decisão de Mônaco. Esta é a avaliação de Walter Maierovitch, ex-secretário nacional Anti-drogas, juiz aposentado e um dos especialistas brasileiros em combate a crimes financeiros. Para Maierovitch, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria ter escalado um de seus ministros para estar hoje cedo em Mônaco, no lugar do diplomata que pedirá a extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola.

- Poderia ser Tarso Genro (Justiça) ou Celso Amorim (Exterior). Mas numa hora dessas não pode mandar alguém do segundo time - disse o juiz. - Agora é que vamos ver a força da diplomacia brasileira.

A extradição se tornou questão diplomática porque o Brasil não tem um acordo jurídico com Mônaco, e os dois lados contam com argumentos poderosos, acredita o especialista:

- O problema número 1 é a falta de um acordo bilateral. Depois, Cacciola deve alegar que é um cidadão italiano. Por uma questão ética, os países que não têm cooperação internacional aceitam fazer a extradição em casos de tráfico de drogas, o que, claramente, não é o caso.

Outro ponto levantado pelo juiz é o fato de a condenação ser em primeira instância. Mas pesa a favor do Brasil o fato de ter havido fuga:

- A presunção de inocência vale em todo o mundo, mas ele enganou a Justiça. Lula deveria mandar seus ministros lá (Mônaco), porque o caso mostra como o sistema financeiro brasileiro era frágil. Toda pressão tem de ser feita.

Os casos Marka - banco de Cacciola - e FonteCindam começaram com a desvalorização do real, em 1999. Cacciola apostou 20 vezes o patrimônio do banco em que o dólar não seria desvalorizado. Quando aconteceu a desvalorização, não havia fundos para vender os dólares na cotação prometida. O Banco Central vendeu ao Marka dólar a R$1,27, enquanto a cotação já estava em R$1,32. O prejuízo aos cofres públicos foi de cerca de R$1,05 bilhão somente com o Marka. Na época, a maioria do mercado financeiro apostava na desvalorização. O Marka e o FonteCindam estavam na mão oposta.