Título: Dificuldade de bloqueio de bens de Cacciola se deve a venda e doação
Autor: Frisch, Felipe e Fernandes, Lilian
Fonte: O Globo, 17/09/2007, Economia, p. 17

Ex-banqueiro tinha iates e casa em Angra dos Reis, segundo procurador.

Além da prisão, a outra conseqüência da condenação do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, por desvio de dinheiro público e gestão fraudulenta de instituição financeira, é a obrigação de indenizar os cofres públicos pelo prejuízo, calculado em torno de R$1,050 bilhão em valores da época. No entanto, a tirar pelos bens que oficialmente pertencem ao ex-banqueiro hoje e pertenciam em 2000, pouco poderá ser ressarcido.

- Tentamos seqüestrar os bens, mas ele havia dilapidado o patrimônio, que incluía iates, apartamentos e alguns imóveis fora do Rio, como uma casa em Angra dos Reis, e outros valores financeiros. Ele vendeu e repassou a terceiros, em alguns casos - disse o procurador Artur Gueiros, responsável pelo caso.

Segundo o procurador, o que ainda estava em nome de Cacciola e dos demais acusados no Brasil, no início do processo, como automóveis, jóias e objetos de arte, foi bloqueado. Mas o somatório desses bens não chegou a 1% do prejuízo dado aos cofres públicos. No caso dos demais envolvidos, menos bens foram repassados a terceiros, disse.

Apartamento da Barra estava em nome de "offshore"

Gueiros revela que ele e os demais procuradores que estavam no início do caso - Bruno Acioli e Raquel Branquinho, hoje no Ministério Público Federal do Distrito Federal - tentaram descobrir contas de todos os envolvidos no exterior. Mas o trabalho é difícil, devido às políticas de sigilos dos paraísos fiscais.

- Pedimos colaboração ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que trabalha integrado com outras agências de inteligência internacionais, para que, se detectada alguma conta no exterior, fosse bloqueada. E isso foi feito na época, em 2000 - afirmou Gueiros.

Um apartamento de cerca de 800 metros quadrados no Singing Hills, um dos 14 prédios do condomínio Barra Golden Green, na Barra da Tijuca, foi a residência de Cacciola até ele fugir do país, em julho de 2000. Segundo o procurador, o imóvel pertencia a uma offshore - empresa no exterior, normalmente em paraísos fiscais - no Uruguai.

Moradores do local contaram ao GLOBO que o imóvel estaria fechado e bloqueado pela Justiça. O condomínio conta com heliponto, campo de golfe iluminado, lago, jardins, piscinas, quadras de tênis, academia de ginástica, salão de beleza, salões de jogos, bares e restaurante.

Além de Cacciola, o condomínio teve outros moradores com problemas com a Justiça. O empresário de futebol Alexandre Rodrigues, envolvido no escândalo do propinoduto, foi um deles. O auditor fiscal Francisco do José dos Santos, um dos 13 acusados de desviar R$3 bilhões do INSS, foi outro.

O prédio Singing Hills, onde também viveu o falecido empresário Jair Coelho, acusado de fraudar licitações no Rio, chegou a ser apelidado de Bangu 4 pelos próprios moradores do Golden Green. É, no entanto, o mais luxuoso dos prédios. Tem apenas seis andares, e um apartamento por piso. Cada apartamento conta com quatro suítes, 120 metros quadrados de varanda, biblioteca, adega, sala de ginástica e seis vagas de garagem vinculadas.