Título: Valerioduto mineiro será denunciado em breve
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 18/09/2007, O País, p. 8

Procurador deve denunciar o tucano Azeredo e Marcos Valério; o ministro Mares Guia pode fazer parte da lista.

BRASÍLIA. A equipe do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, já trabalha na redação final da denúncia que será oferecida nos próximos dias à Justiça contra os envolvidos no chamado valerioduto mineiro - esquema que teria injetado recursos milionários de caixa dois na campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas, em 1998, como mostrou reportagem do GLOBO em 2005.

Já é dado como certo que Antonio Fernando denunciará Azeredo, Marcos Valério (o mesmo do mensalão do PT) e dezenas de beneficiários do dinheiro distribuído por intermédio de agências de Valério. Caso o procurador leve em consideração o conteúdo integral do relatório da Polícia Federal, também poderá fazer parte dessa lista o atual ministro das Relações Institucionais do governo Lula, Walfrido dos Mares Guia.

No documento da PF, Walfrido é acusado de movimentar, através da Samos Participações Ltda, às vésperas das eleições de 2002, somas de dinheiro incompatíveis com a capacidade financeira da empresa, de sua propriedade. Parte desses recursos (R$507 mil) foi usada para saldar uma suposta dívida da campanha de Azeredo, herdada de 1998, com Marcos Valério. Por intermédio da Samos, Walfrido contraiu um empréstimo no Banco Rural - acusado de financiar tanto o valerioduto tucano quanto o petista, montado a partir de 2003. A PF pede a quebra de sigilo da empresa para rastrear a origem do dinheiro.

A PF desconfia que esse e outros empréstimos feitos pelas agências de Marcos Valério junto ao Banco Rural e a outras instituições financeiras não passem de simulações para esconder sua real origem. No relatório, de 172 páginas, os investigadores afirmam que o caixa dois que abasteceu a campanha de Azeredo e a de seus aliados em Minas foi alimentado por recursos públicos. Com o objetivo de "atestar" serviços não prestados de publicidade, as agências DNA e SMP&B, de Valério, emitiram, segundo a PF, mais de 80 mil notas fiscais falsas.

Investigação inclui mais de 150 políticos

Caso seja aceita, a denúncia do mensalão mineiro pode se tornar uma peça mais complexa do que o processo do mensalão petista. A investigação envolve mais de 150 políticos de 17 partidos que teriam se beneficiado de até R$100 milhões movimentados sem o conhecimento da Justiça Eleitoral. Vinte e quatro candidatos e assessores identificados como sacadores dos recursos de Valério admitiram em depoimento que o dinheiro tinha como destino o financiamento de comitês que trabalhavam para Azeredo no estado.

Perícias da PF afirmam que pelo menos R$3 milhões foram desviados de duas empresas estaduais: Companhia de Saneamento (Comig) e Companhia Mineradora (atual Copasa). Essas empresas compraram, cada uma, cotas de patrocínio de R$1,5 milhão para exibir suas logomarcas no Enduro Internacional da Independência, em 1998. O valor pago foi mais de 2.900% acima das cotas dos demais patrocinadores, que desembolsaram, em média, R$50 mil. Apesar disso, o espaço dado em coletes, placas e cartazes foi o mesmo para todas as marcas.

A PF seguiu o caminho feito pelo dinheiro que saiu das companhias e descobriu, segundo o relatório, que a quantia foi usada para pagar empréstimos repassados à coordenação financeira da campanha de Azeredo. O documento também diz que o publicitário Duda Mendonça, réu no processo do mensalão petista, recebeu R$4,5 milhões da campanha tucana. No entanto, apenas R$700 mil foram declarados à Justiça Eleitoral.