Título: Santander prevê comprar ABN Amro em 20 dias
Autor: Berlinck, Deborah e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 18/09/2007, Economia, p. 20

No Brasil, ao levar o Real, banco espanhol só perderia para o Bradesco no ranking das instituições privadas.

MADRI e SÃO PAULO. O Santander deverá anunciar em 20 dias a compra do banco holandês ABN Amro, que no Brasil é dono do Real. Com essa compra, o Santander vai se tornar o segundo maior banco privado do Brasil em ativos, atrás apenas do Bradesco. Até o dia 5 de outubro o ABN Amro terá de anunciar a proposta vencedora, se a do consórcio formado por Santander, Royal Bank of Scotland (RBS) e Fortis, ou a do britânico Barclays. Nos últimos dez anos, o Santander investiu US$25 bilhões no Brasil.

- Espero que em 20 dias possamos fechar a operação - disse o presidente do Santander, Emílio Botín, durante reunião de empresários espanhóis com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio de la Moncloa.

Botín: Brasil reúne critérios para "investment grade"

Caso leve o Real, o banco espanhol ficaria entre os três maiores bancos em operação no país, só atrás de Banco do Brasil e Bradesco. O Santander, que hoje ocupa o sétimo lugar do ranking, alcançaria R$272,1 bilhões em ativos, superando o Itaú (R$255,4 bilhões, pelo balanço divulgado em junho passado). Este ainda ficaria na frente no quesito carteira de crédito, mas a diferença entre os dois bancos cairia dos atuais R$55,9 bilhões para apenas R$1,6 bilhão.

A expectativa do mercado é que quinta-feira a maioria dos acionistas do ABN Amro aprove a proposta de compra apresentada pelo consórcio, de US$98,4 bilhões - US$7,5 bilhões a mais do que o oferecido pelo Barclays. Ontem, a proposta do consórcio foi aprovada pelo Ministério das Finanças da Holanda. A do Barclays já havia sido aprovada. As ações do Santander na Bolsa de Madri caíram ontem 1,64%.

Para analistas, o aumento de musculatura do Santander levará Bradesco e Itaú a buscarem novas aquisições. Segundo informações de mercado, o Itaú teria oferecido cerca de R$2 bilhões pelo controle do mineiro BMG. Com ativos de R$5,3 bilhões, o BMG está envolvido nas denúncias do mensalão, mas isso não parece tirar o brilho do líder em crédito consignado. O Itaú teria uma carta, com validade até novembro, garantindo preferência no caso de os acionistas do BMG decidirem vender o banco. Mas há informações de que o Bradesco não desistiu de sondar o BMG.

Negativa à primeira vista, a eventual concentração do mercado, segundo analistas, pode ser positiva para o consumidor, pois aumentará a concorrência.

- A venda do Real vai mudar o cenário da disputa entre os bancos no país - afirmou Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.

Botín também elogiou a economia brasileira. Ele afirmou que nunca viu o Brasil em melhor situação do que hoje e que o país já reúne todos os critérios para obter das agências de classificação de risco o chamado investment grade (grau de investimento), que abriria as portas para mais investimentos estrangeiros no país. Índia e China têm esse rating. No Santander, "todos estão convencidos" de que o Brasil obterá o selo "antes de 18 meses", disse Botín:

- (O Brasil) fez tudo o que tinha de fazer. Agora temos que pedir para que as agências de rating cumpram o contrato. Não pode haver desculpas.

Governo Lula convida espanhóis a investirem

O entusiasmo com o Brasil não foi só do Santander. Em dois encontros com empresários, o presidente Lula ouviu elogios de grandes grupos, como Telefónica, Iberdrola e Gas Natural. O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, lembrou que a Espanha é o país que mais investe no Brasil depois dos Estados Unidos. No encontro, Lula defendeu o uso do etanol como combustível, rebatendo críticas sobre as condições de trabalho no setor:

- Será que o corte de cana-de-açúcar é mais penoso do que trabalhar numa mina de carvão? E por quantas décadas, ou por quantos séculos, o carvão determinou a economia do mundo?

Lula também se reuniu com o rei Juan Carlos I, no Palácio de Zarzuela. Eles discutiram a situação internacional e as relações entre Espanha e Brasil.

(*) Enviada especial, com agências internacionais