Título: A velha lista
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 19/09/2007, O Globo, p. 2

PT e PSDB continuaram evitando ontem discutir a volta do escândalo do valerioduto mineiro ao noticiário. No relatório da PF, há pelo menos um elemento que, por sua rocambolesca origem, história e circulação, é de autenticidade duvidosa: a tal lista de 150 políticos mineiros que teriam recebido recursos do megacaixa dois concebido e gerido por Marcos Valério.

No relatório da PF, ela aparece como sendo a "lista de Claudio Mourão", tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo à reeleição como governador de Minas, em 1998. Mas já circulou também como "lista de Dimas", dos que teriam recebido de um caixa dois montado por Dimas Toledo em Furnas. Seu difusor foi o lobista Nilton Monteiro, que responde a diversos processos por falsificação de documentos. A primeira versão foi uma lista fotocopiada, de cinco páginas, sem data nem assinatura. Ele a entregou à PF em julho, mas em novembro apresentou uma outra, que seria "a verdadeira" e trazia a assinatura do tesoureiro de Azeredo. A PF atesta a autenticidade material dessa segunda lista, mas não há provas de sua autenticidade intelectual ou ideológica. Pode ser original, mas ser falsa. É também discutível que alguém tenha se recordado, em 2005, quando a lista teria sido feita, de 150 nomes, sete anos depois. É ainda estranha a mistura política de nomes, nela aparecendo tucanos, pefelistas e outros aliados de Azeredo, e também um petista como o deputado Gilmar Machado.

O ministro Mares Guia, suspeito de ter participado do esquema por ter emprestado R$500 mil a Azeredo, mais tarde, para o pagamento de um empréstimo, não foi, diferentemente do que se afirmou aqui ontem, coordenador político e financeiro de Azeredo em 1998. Nem um nem outro, ele esclarece. Fora vice-governador, mas disputava uma vaga de deputado federal, não tendo participado da campanha majoritária. A PF estranha a origem dos recursos de sua empresa patrimonial, a Biobrás. Em Minas, é mesmo sabido que ele fez um negócio milionário ao vender a Biobrás, único fabricante nacional de insulina, a uma empresa estrangeira. Foi o que ele explicou ontem ao procurador-geral e ao presidente Lula. A este, assegurando que está contrariado, mas nem um pouco preocupado com a denúncia.