Título: Crise afeta comércio do DF
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2009, Economia, p. 12

Pesquisa mostra que 60,9% dos empresários do setor foram prejudicados pela turbulência econômica. Maior parte teve redução no volume de vendas e muitos perderam clientes

Ilva Pequeno, empresária do Sudoeste, conseguiu reduzir o valor do aluguel e negociar com fornecedores preços mais baixos por causa da crise

Gustavo Moreno/CB/D.A Press Edilson Oliveira ignorou a crise e vai abrir mais uma filial Os impactos da crise econômica são contabilizados pelos comerciantes do Distrito Federal, apesar do otimismo de alguns setores que acreditavam que os efeitos seriam menos sentidos na capital do país em função da renda dos servidores públicos. Pesquisa realizada pela Federação do Comércio do DF (Fecomércio-DF) que será divulgada esta semana indica que, em média, 60,9% dos 414 empresários entrevistados se disseram afetados pela turbulência econômica. Os prejuízos acumulados desde setembro variam de acordo com cada setor.

Os impactos, segundo o levantamento, são de redução do número de clientes ¿ 67,6% deles estão vendendo para um leque menor de consumidores ¿, diminuição da quantidade vendida ¿ e 72,0% reduziram os volumes comercializados. ¿Brasília pode até sofrer um pouco menos, como se imagina, em função da força do serviço público, mas a pesquisa mostra que a cidade também está sendo afetada. O comércio vinha crescendo em ritmo muito acelerado e a partir de setembro começou a sentir o recuo. Os consumidores estão mais cautelosos em fazer aquisições, mesmo que não estejam sendo afetados pelo desemprego¿, afirma o presidente da Fecomércio, o senador Adelmir Santana (DEM).

No acumulado de setembro a março, os setores que se disseram mais afetados foram o de calçados, de cine-foto-som, as óticas e os revendedores de veículos. Dos comerciantes de calçados, 84,0% reclamaram das vendas. Dos outros três segmentos, 73% dos entrevistados têm amargado uma desaceleração nos negócios. No caso dos automóveis, a recuperação é sentida desde o início de 2009, em função da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), anunciada em 11 de dezembro do ano passado.

Mas antes de ganhar o benefício, o setor registrou números negativos, segundo o presidente do Sindicato do dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do DF (Sincodiv-DF), Ricardo Lima. ¿Tivemos um impacto muito grande no começo da crise, com demissões pontuais. Por causa do desempenho do último trimestre não conseguimos atingir a meta de vendas de 2008, que era de 100 mil. Vendemos 94 mil. Mas desde a segunda quinzena de dezembro as vendas melhoraram muito¿, afirma.

Outro setor beneficiado pelo governo, o de materiais de construção, também comemora uma recuperação. De acordo com a pesquisa da Fecomércio, 67,5% dos empresários se sentiram prejudicados pela crise econômica. Mas a redução do IPI, concedida pelo governo a partir do dia 1º deste mês, já está surtindo efeito, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção do DF, Cecin Sarkis. Depois de cinco meses registrando recuo nas vendas, o comércio de materiais de construção do Distrito Federal começou a sentir uma recuperação no mês passado, de acordo com Sarkis. ¿Estamos esperando uma melhora ainda maior com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e com o término das chuvas¿, afirma.

A redução nos negócios registrada no primeiro trimestre chegou a 16,5% nas duas lojas do empresário Edilson José de Oliveira. Apesar da retração, não foi preciso mexer no quadro de pessoal e ele manteve os investimentos. Ainda nesta semana ele abre sua terceira unidade, na Asa Sul. ¿Era um projeto antigo, de antes da crise, que resolvi manter. Acho que a crise não deve continuar impactando porque o lado psicológico já está deixando de existir e a redução do IPI deve ajudar muito o setor¿, aposta.

Acúmulo de perdas O comércio do DF sofreu mais nos últimos meses que a média nacional. A base de comparação elevada do comércio brasiliense de 2007 ajuda a explicar a desaceleração em ritmo mais acelerado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, enquanto na média brasileira as vendas caíram 4,2% em novembro, subiram 1,2% em dezembro e 2,8% em janeiro, na capital federal a redução foi sentida nos três meses ¿ de -11,9%, -5,3% e -3,8%, respectivamente ¿ a última Pesquisa Mensal de Comércio divulgada pelo órgão é de janeiro.

A retração no último trimestre de 2008 se deu em função das incertezas econômicas do momento, segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do DF (CDL-DF), Vicente Estevanato. ¿As pessoas estavam inseguras de comprar, de se endividar. Mas a partir de janeiro o comércio tem reagido. Tanto que esperamos um crescimento de vendas neste ano em torno de 3,5% e 4%, não deve haver retração no comércio de Brasília em 2009¿, aposta.

A incerteza do fim do ano assustou um pouco a comerciante Ilva Pequeno, que em dezembro abriu sua primeira loja de roupas femininas, localizada no Sudoeste. Recém-chegada de Fortaleza, ela aproveitou a turbulência para conseguir preços mais baixos. O aluguel da loja ficou bem mais barato em função do grande número de pessoas que estavam desistindo de ter um negócio próprio, conta. E os fabricantes estão negociando preços menores para evitar perdas nas vendas. Por outro lado, ela também teve que ser mais flexível do que planejava. ¿Cada dia que passa parece que as pessoas pechincham mais. É muito raro a cliente que não toca no assunto de desconto. E eu dou, porque quero fidelizar o consumidor. Este é o momento de dar desconto, de me aproximar da minha clientela¿, ensina.