Título: Mares Guia pede a procurador tempo para defesa
Autor: Damé, Luiza e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/09/2007, O País, p. 11

Ministro nega ter coordenado campanha do tucano Azeredo que usou valerioduto, na qual atuava informalmente.

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. Preocupado com a possibilidade de ser processado por suposto envolvimento no valerioduto mineiro, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, bateu ontem à porta do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Mares Guia pediu tempo para concluir uma auditoria, encomendada por ele próprio à multinacional PricewaterhouseCoopers, para tentar provar que não teve envolvimento no escândalo. O procurador-geral, no entanto, disse que o cronograma de trabalho não será alterado e que espera oferecer a denúncia à Justiça em breve. Mares Guia já foi ouvido no inquérito, que está aberto há dois anos.

Mais cedo, o ministro foi dar explicações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, e negou ter participado do esquema. O relatório da Polícia Federal que servirá de base para a denúncia acusa o ministro de ter participado da arrecadação de recursos de caixa dois para a campanha derrotada do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas, em 1998. Lula, segundo Mares Guia, manifestou-lhe solidariedade.

- Solicitei ao procurador uma oportunidade de esclarecer a ele e discutir a entrega de uma manifestação por escrito, formalizando com documentos, com explanações cristalinas, todas as circunstâncias que foram abordadas no relatório da Polícia Federal - disse Mares Guia. - Estou no meu pleno exercício de cidadão de me defender de suposta dúvida.

Na conversa com Lula, Mares Guia disse ter lido o relatório da Polícia Federal e afirmou que as descrições ali contidas não constituem provas contra ele.

- As questões não se sustentam - afirmou o ministro, dizendo estar tranqüilo.

Depois do encontro, Mares Guia afirmou que a sua situação não causa constrangimento ao governo. Nos bastidores, o ministro não manifestou disposição de deixar o cargo em razão das denúncias de envolvimento em caixa dois da campanha de Azeredo.

- Não constrange. Você defender-se é uma obrigação. Da mesma forma que estou aqui dando explicação, vou dar essas explicações às autoridades judiciais de uma maneira formal, em respeito ao meu direito de esclarecer questões que estão levantadas. Porque tenho um cargo público, eu preciso dar explicações não só ao presidente, mas a todos que compõem o governo e à população brasileira - disse.

O presidente, segundo interlocutores de Lula, ficou satisfeito com as explicações de Mares Guia.

- (O presidente Lula) demonstrou, como sempre, solidariedade, amizade e confiança - disse o ministro.

Mares Guia negou ter participado da coordenação da campanha do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998, mas reconheceu que exerceu essa função na eleição de 1994. Segundo ele, tanto Azeredo como o coordenador financeiro da campanha, Cláudio Mourão, já disseram isso - "de maneira cabal" - em depoimento à PF.

- Nunca fui coordenador da campanha de 98. Eu não tinha responsabilidade na organização, nem no financeiro da campanha do Azeredo, em 98. Eu era seu vice-governador, amigo pessoal , e fui coordenador da campanha de 94, quando nos elegemos - disse.

Em fax, pedido de recursos para campanha em Minas

O atual primeiro vice-presidente da Câmara, Narcio Rodrigues (PSDB-MG), enviou em 17 de outubro de 1998 documentos a Mares Guia reivindicando R$60 mil para serem gastos na campanha de Azeredo em 16 cidades do Triângulo Mineiro. No fax, enviado do número 034 4212766 para o comitê às 19h56m, Narcio Rodrigues refere-se a Mares Guia, Carlos Eloy e Álvaro Azeredo como coordenadores da campanha de Azeredo. Na época, Mares Guia era vice-governador; Álvaro Azeredo, irmão do senador tucano; e Carlos Eloy, o presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), empresa acusada de repassar recursos para a campanha de reeleição de Azeredo.

"Prezados senhores, conforme entendimento com Múcio Reis (ex-prefeito de Sete Lagoas e que auxiliava Mares Guia na coordenação), por telefone, segue abaixo planilha de cidades e respectivos valores para desenvolvimento de plano de ação emergencial da campanha de Eduardo Azeredo", diz o documento assinado por Narcio, que acabava de ser reeleito deputado.

Para sensibilizar Mares Guia a liberar o dinheiro solicitado, Narcio apresentou um quadro que mostrava a votação que obtivera nas cidades e as votações que Azeredo e o adversário Itamar Franco (PMDB) também tiveram no primeiro turno, nos municípios mencionados. Narcio também pede 3.600 camisetas e dinheiro para pagar os salários de mais de mil pessoas que iriam trabalhar na distribuição de material de campanha de Azeredo.

Narcio disse ontem que enviou à coordenação geral de campanha o mapeamento das necessidades eleitorais no Triângulo Mineiro, solicitando recursos, mas afirmou não lembrar se o coordenador-geral da campanha era Walfrido dos Mares Guia.