Título: Mais miséria na América Latina
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2009, Economia, p. 14

Desvalorização das commodities agrícolas e minerais põe fim a seis anos de expansão na região, faz algumas economias registrarem recessão e deve lançar, somente neste ano, 15 milhões de pessoas à pobreza absoluta

Depois de seis anos de crescimento contínuo, a América Latina está se deparando com um processo recessivo que jogará pelo menos 15 milhões de pessoas na miséria ao longo de 2009. O tombo na economia será comandado pela forte retração nos preços das commodities. Foram essas mercadorias com cotação internacional (grãos e minérios, principalmente), cujos preços subiam a passos largos antes do estouro da crise mundial, que levaram a região a um ciclo de prosperidade. Agora, parte da riqueza acumulada será devolvida pela contração de até 1% do Produto Interno Bruto (PIB). ¿A América Latina está encarando dois desafios: o da pobreza e o da desigualdade. Mas a região está mais bem preparada para enfrentá-los¿, afirmou a vice-presidente do Banco Mundial, Pamela Cox,

A interrupção do crescimento da América Latina será o tema principal do Fórum Econômico Mundial, que acontece no Rio de Janeiro de hoje a quinta-feira. Na visão dos quase 500 líderes que participarão do encontro, os países latinos precisam responder de forma pró-ativa à crise, para que a fatura a ser paga não mine por completo as importantes conquistas dos últimos anos ¿ somente no Brasil, a maior economia da região, 20 milhões de pessoas migraram para a classe média desde 2004.

¿Esse é um momento crucial para elevar nosso entendimento sobre os determinantes do crescimento da América Latina¿, disse Javier Santiso, diretor do Departamento Econômico da Organização para a Cooperação dos Países Desenvolvidos (OCDE), órgão que reúne as economias mais ricas do mundo.

Investimento menor Na visão do Fórum, o risco de a região fechar este ano com queda do PIB é enorme. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), a retração será comandada pelo México (com recuo de 2%) e pelo Brasil (-1%). A região foi afetada pela contração do crédito e pela redução dos investimentos e do comércio mundial. Há, ainda, uma grande aversão ao risco à América Latina, pois não se sabe até que ponto o sistema financeiro local foi afetado pelo terremoto que varreu o planeta.

Os participantes do Fórum reconhecem que boa parte dos governos latinos tem agido com firmeza por meio de políticas anticíclicas para minimizar os efeitos da crise. Mas não se sabe se essas políticas serão suficientes para atender a todas as demandas. O Fórum ressalta ainda que todas as empresas da América Latina, inclusive as grandes, foram afetadas. Mas até quando o setor produtivo aguentará tal restrição sem que ela resulte em uma onda avassaladora de desemprego? Essa é uma das principais indagações que o Fórum tentará responder.

Os olhos e os ouvidos também estarão atentos ao que a região pode aproveitar da administração de Barack Obama. Grande parte das economias latinas depende das exportações para os EUA e das remessas de divisas de trabalhadores que vivem naquele país. Para o Fórum, esse é o momento de a América Latina avançar em direção às reformas e reduzir a sua dependência das exportações de commodities.