Título: Ministro da Educação é estudioso do marxismo
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 20/09/2007, O País, p. 8

Haddad defende socialismo em livros.

SÃO PAULO. Ministro da Educação do governo Lula desde julho de 2005, o professor Fernando Haddad é um estudioso do marxismo. Graduado em direito pela Universidade de São Paulo (USP), fez mestrado em economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP com a dissertação "O caráter socioeconômico do sistema soviético", em 1990. Para escrevê-la, foi aluno visitante da McGill University, no Canadá, em 1989. O doutorado em filosofia foi obtido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com a tese "De Marx a Habermas - O materialismo histórico e seu paradigma adequado", em 1996.

A dissertação foi motivada, segundo Haddad, pelos acontecimentos do bloco comunista no começo dos anos 90, que "recolocaram a questão de qual seria (ou teria sido) o caráter social do sistema soviético". Haddad afirma que decidiu apresentar "interpretação alternativa do fenômeno soviético". "Não só pode-se considerar progressista o sistema soviético em relação ao estágio precedente, qual seja, o modo asiático de produção desfigurado pelo imperialismo, como deve-se considerar progressista o modo capitalista em relação ao sistema soviético", resume a dissertação.

Professor licenciado do Departamento de Ciência Política da USP, onde ensina teoria política, Haddad publicou quatro livros: "O sistema soviético - Relato de uma polêmica" (Scritta Editoral), em 1992; "Desorganizando o consenso" (Vozes), em 1998; "Em defesa do socialismo" (Vozes), em 1998; e "Sindicalismo, cooperativismo e socialismo" (Fundação Perseu Abramo), em 2003.

No volume "Em defesa do socialismo - Por ocasião dos 150 anos do Manifesto", Haddad propõe, segundo o professor Paul Singer, que assina a orelha do livro, "um diagnóstico do capitalismo atual, que chama de "superindustrial"; desenvolve nova teoria das classes (...), distinguindo a classe proprietária e três não-proprietárias; analisa inter-relacionamentos das classes para propor uma estratégia de luta pelo socialismo que possa unir as classes não-proprietárias".

"O projeto socialista, nos dias que correm, aparece como algo mesquinho, fruto do ressentimento, que pretende tirar a liberdade dos mais capazes. Um exame mais atento da sociedade capitalista revela, entretanto, uma realidade oposta da apregoada", afirma Haddad na página 38 do livro, que está esgotado.

Ter escrito em defesa do socialismo não impediu o ministro de ter sido analista do Unibanco, atividade listada no seu currículo. Ele foi consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São Paulo. Antes de assumir o Ministério da Educação, era secretário-executivo da pasta. De perfil acadêmico, Haddad é visto no PT, ao qual é filiado, como "de esquerda demais nas idéias, tucano demais nas ações".