Título: Turbulências à vista na agência
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 20/09/2007, O País, p. 10

Solange Vieira, nova presidente da Anac, comprou briga com fundos de pensão.

Se levar para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) o mesmo estilo demonstrado na Secretaria de Previdência Complementar (SPC), órgão do Ministério da Previdência que comandou entre 2000 e 2001, no governo Fernando Henrique, a economista Solange Paiva Vieira, de 38 anos, deverá provocar turbulências no setor. Durante os oito meses que passou à frente da SPC, ela comprou briga com os maiores fundos de pensão do país ao se transformar em rigorosa fiscal de suas contas e defender a ampliação dos prazo de aposentadoria dos participantes.

Funcionária de carreira do BNDES, Solange chefiava uma das gerências da área de Crédito do banco até ser chamada, há dois meses, para ser assessora de gabinete do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Além do BNDES e da SPC, a economista também presidiu a Telos, a fundação de previdência do funcionários da Embratel, entre 2002 e 2003. Ela não tem experiência no setor aéreo.

Na duas experiências com previdência fechada, Solange colecionou admiradores, pelo estilo ousado e pela beleza física, e inimigos. Em junho de 2001, o então ministro da Previdência, Roberto Brant, a demitiu da Secretaria de Previdência Complementar uma semana depois de a economista ter declarado que 86 fundos de pensão enfrentavam problemas de caixa e não teriam condições de pagar as aposentadorias de seus segurados. Oito deles, com quase 18 mil associados, estariam próximos da liquidação, apresentando rombo de R$149 milhões.

Na época, Brant disse que havia uma diferença de estilo entre os dois:

- O mercado de fundos tem de crescer. Para isso, é preciso um clima de tranqüilidade, que só será construído com diálogo entre o governo e os grandes fundos.

Antes de sair, Solange determinou auditorias nos maiores planos, promoveu intervenções nos casos mais graves e divulgou informações mostrando que haveria um rombo de R$16 bilhões na contabilidade do setor. A defesa do decreto 3721, de 8 de janeiro de 2001, que ampliava prazo de aposentadoria no setor, lhe valeu o apelido de "mata velhinhos".

Dois anos depois, ela voltou a se envolver em polêmica, desta vez na condição de presidente da Telos. Uma de suas primeiras medidas foi afastar conselheiros que recebiam para não trabalhar. Em seguida, se envolveu no processo de venda da Embratel, empresa patrocinadora do fundo de pensão.

O ex-ministro da Previdência Waldeck Ornellas disse ontem considerar acertada a indicação de Solange Vieira para a presidência da Anac. Segundo Ornellas, Solange é firme, decidida e saberá enfrentar as dificuldades da aviação civil. Solange foi secretária de Previdência Complementar durante quase toda gestão de Ornellas na Previdência, no governo Fernando Henrique.

- Ela é competente, dura, firme. Sabe formular e sabe executar - disse o ex-ministro.