Título: Distribuição farta de cargos
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 21/09/2007, O País, p. 3

Na semana da votação da CPMF, explode a disputa entre aliados por postos nas estatais.

Ogoverno deflagrou uma guerra por cargos na base aliada durante a votação da emenda constitucional que prorroga a CPMF até 2011. As diretorias do Banco do Nordeste (BNB) e da Companhia Docas de São Paulo (Codesp), que administra o porto de Santos, foram substituídas esta semana, enquanto no plenário da Câmara a emenda era aprovada em primeiro turno. As mudanças foram precedidas de feroz disputa entre os aliados do governo. Enquanto alguns governistas saíram ganhando com nomeações, outros perderam com demissões e com o não atendimento de seus pleitos.

O senador José Maranhão (PMDB-PB) é um dos mais irritados. O diretor de Controle e Risco do BNB, o ex-prefeito de Bananeiras (PB) Augusto Bezerra, apadrinhado seu, foi demitido. A surpresa do senador só não foi total porque foi avisado, na segunda-feira, que no dia seguinte haveria a substituição. Os líderes do governo reconhecem que a mudança pode ter sido um tiro no pé, devido à frágil base governista no Senado, onde haverá dificuldade para aprovar a CPMF. - Não sabia de nada. Fui informado na véspera. Esta é uma forma sacana de fazer política - protestou o ex-governador da Paraíba, comentando a votação da CPMF: - Não devo eticamente fazer esse tipo de coisa (votar contra o governo). Mas não estou satisfeito, porque essa não é uma forma leal de fazer política.

As nomeações do BNB, aprovadas terça-feira pelo Conselho de Administração do banco, agradaram, por outro lado, ao governador Jaques Wagner (BA) e ao PT baiano, que indicaram o diretor Paulo Sérgio Ferraro. E também ao governador petista Wellington Dias (PI), que emplacou Luiz Carlos Everton de Farias, ex-diretor da Codevasf. Ferraro e Everton são funcionários de carreira da instituição.

Também CEF e BB entram na divisão

Outros que se deram bem, pelo menos por enquanto, foram o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, e o PTB mineiro, que indicaram para diretor Osvaldo Serrano, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez o quarto diretor nomeado, Luiz Henrique Mascarenhas, funcionário do Banco do Brasil. Mas Mares Guia poderá perder na briga por cargos na Petrobras.

Já na Companhia Docas de São Paulo quem acabou contrariado foi o líder do PSB, Márcio França (SP), um dos mais atuantes na defesa da aprovação da CPMF na Câmara. Ele se articulou com os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), Jilmar Tatto (PT-SP) e a ex-prefeita de Santos Telma de Souza (PT), para nomear o presidente da Docas de Santos. O candidato deles para o cargo era o primeiro suplente do PT para a Assembléia Legislativa paulista, Fausto Figueira. França e os petistas convenceram Mares Guia a levar o nome de Figueira ao presidente Lula. No início de setembro, quando o Secretário Nacional dos Portos, Pedro Brito, aliado de Ciro Gomes (PSB-CE), foi tratar das nomeações, Lula apresentou-lhe a lista de Mares Guia.

- Presidente, se essa for a diretoria do porto, prefiro entregar o cargo - disse Brito, de acordo com um assessor da Casa Civil.

Prevaleceu a escolha de Brito e Ciro, José Di Bella Filho, como presidente da Codesp. Brito nomeou também os diretores Carlos Helmut Kopittke, ligado a Ciro e ao presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, para a diretoria comercial; e Alencar Costa, amigo de Brito, para diretor financeiro.

Brito também venceu o lobby petista para escolher o diretor de Infra-estrutura das Docas, que deve ser um funcionário de carreira. Escolheu Paulino Moreira da Silva Vicente, que era o último da lista. Ao trocar a diretoria, Brito demitiu afilhados dos ex-deputados Vicente Cascioni (PTB-SP) e Telma de Souza, do presidente do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, e do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP).