Título: Temendo traições, governo adia a próxima etapa de votação da CPMF
Autor: Doca, Geralda e Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 21/09/2007, O País, p. 4

Aprovação por 338 votos revelou dissidências, principalmente no PMDB.

BRASÍLIA. Com insatisfações na base aliada, mesmo com a farta distribuição de emendas e cargos, o governo preferiu não correr riscos, ontem, e adiou para a próxima semana a votação dos destaques apresentados à proposta de prorrogação da CPMF até 2011, aprovada na noite de quarta-feira. O governo venceu, com placar de 338 votos - 30 além do mínimo exigido de 308 votos -, mas o resultado mostrou que houve traições na base, que soma 370 deputados. A maior dissidência foi no PMDB.

Temporão, Stephanes e Geddel foram para a Câmara

A oposição acusou o governo de barganha e apresentou requerimentos convocando ministros para que expliquem seus atos nas horas que antecederam a votação da CPMF. Os ministros do PMDB participaram ativamente das negociações. Na noite de quarta, o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) esteve no plenário da Câmara. Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e José Gomes Temporão (Saúde), os dois do PMDB, também foram à Câmara e participaram das negociações.

O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), teve que conter uma rebelião de Minas Gerais. Chegou ao plenário avisando que o acordo era para votar esta semana apenas o texto-base da emenda constitucional. Mas a pauta da Câmara será obstruída por novas medidas provisórias a partir do dia 1º de outubro. Por isso, para votar em segundo turno a CPMF, o governo talvez tenha que revogar outras MPs.

No PMDB, dos 86 votantes, oito ficaram contra a CPMF e um se manteve em obstrução, mas outros sete se ausentaram, totalizando 16 votos perdidos. Ou seja, o PMDB, mesmo com quatro ministérios e uma infinidade de cargos federais, foi o maior dissidente da base.

O deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), um dos mais ferrenhos na oposição à CPMF, apresentou requerimento de informações sobre a agenda do ministro Walfrido dos Mares Guia nos dias 17, 18 e 19.

- A CPMF foi votada sob o domínio da chantagem - disse Bornhausen.

- Era tão urgente votar a CPMF que, no outro dia, retiraram de pauta. Esse tipo de política, do toma-lá-dá-cá, só leva ao descrédito da política - acrescentou o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP).

Os próprios líderes aliados esperam que o governo cumpra as promessas feitas.

- Estou no purgatório, esperando uma vaga para ir para o céu. Já mostrei todo o bem que já fiz e ainda posso fazer. Só falta receber o passaporte para ir para o céu. A bancada do governo pagou para ver, assinou uma nota promissória, e agora espera receber - afirmou o líder do PR, Luciano Castro (RR).

- O governo nos convenceu de que não é a melhor hora para resolver essas pendências. As negociações foram suspensas para não parecer um troca-troca por votos - disse o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

"Todo governo faz valer seus instrumentos", diz Chinaglia

Para o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a troca de acusações faz parte do sistema político:

- Toda vez que alguém for governo, vai fazer valer seus instrumentos, mas não estou falando nem em nomeações nem em emendas. Se olharmos votações há 20 anos, seguramente teremos críticas da oposição e a defesa do governo. Estou habituado, mas creio que não se pode derivar para um certo cinismo de que tudo é normal.