Título: Firmado acordo para construir refinaria
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 21/09/2007, Economia, p. 32

Chávez diz que "mão do império" atrasa adesão da Venezuela ao Mercosul.

MANAUS. Depois de cinco horas de reunião, os presidentes de Brasil e da Venezuela fecharam ontem à noite um acordo para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Pelo acordo, a Petrobras vai mesmo ficar com 60% do controle acionário da refinaria, e a PDVSA, empresa petrolífera venezuelana, ficará com os outros 40%. Ao anunciar o acordo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que em Orinoco a proporção será inversa: 60% para a PDVSA e 40% para a Petrobras. Nenhum acordo foi assinado ontem, mas Chávez e o presidente Lula disseram ter marcado para dezembro a assinatura dos contratos.

Chávez criticou duramente o atraso do Congresso brasileiro em aprovar o protocolo de adesão plena de seu país ao Mercosul, dizendo que, se a entrada não ocorrer, será uma vitória dos Estados Unidos.

- Estou seguro de que é a mão do império, a mão norte-americana. Se a Venezuela não ingressar no Mercosul será vitória do império. Segundo ele, a Venezuela pode esperar até "um limite digno", mas não vai se arrastar para conseguir a adesão plena ao Mercosul. Mas, depois, ouviu de Lula que o governo brasileiro tem todo o interesse de fazer aprovar no Congresso o projeto, o que, para Amorim, pode ocorrer até dezembro.

- Espero que o Congresso aprove para que a Venezuela se integre ao Mercosul. Vamos fazer todo o esforço para integrar os dois países - disse Lula.

Pouco antes da chegada dos presidentes ao Hotel Tropical, em Manaus, um grupo de cerca de 40 manifestantes, incluindo muitos estudantes, fez uma manifestação pró-Chávez organizada pelo governo venezuelano em frente ao hotel. Havia faixas com elogios ao líder venezuelano. A Federação das Associações de Moradores de Roraima, por sua vez, exibiu faixas com a inscrição "Roraima, sim, Lula não". Chávez passou pelos manifestantes e usou a entrada principal do hotel, mas a comitiva de Lula evitou o protesto e entrou por uma porta lateral.

Venezuelano faz queixas sobre a Petrobras

Chávez chegou ao local da reunião, dizendo-se disposto a ter uma "conversa dura" com o presidente sobre o acordo entre a Petrobras e a PDVSA para a construção da refinaria Abreu de Lima. Disse ser mentira a informação de que a PDVSA exigia, de última hora, 60% do capital da refinaria.

Antes do encontro com Lula, o presidente venezuelano reclamou duramente da posição da Petrobras sobre o gasoduto e rebateu advertências feitas pela empresa de que não há certeza sobre a capacidade das jazidas de gás de Mariscal Sucre, principal fonte do gás que escoará pelo gasoduto. A Petrobras reclama que, apesar de seus insistentes pedidos, a Venezuela nunca apresentou a certificação dessas jazidas.

- Há opiniões da Petrobras que eu não entendo - queixou-se Chávez para, em seguida, declarar que essas são as maiores reservas de gás do mundo.

Lula disse que o Brasil pretende que a refinaria de Pernambuco comece a operar em 2010, antes de Orinoco, cujo projeto está mais atrasado. Chávez chegou a Manaus afirmando ainda estar chateado com o atraso nas obras da refinaria Abreu e Lima. Reclamou ainda que, desde a cerimônia de colocação da pedra fundamental, já se passaram dois anos. O atraso, na sua opinião, se deve apenas à burocracia do governo brasileiro e da Petrobras.

Em relação a outro tema que complica a agenda energética Brasil-Venezuela, a construção do Gasoduto do Sul, que levará o gás venezuelano a outros países do continente, os presidentes decidiram apenas começar um projeto que chamaram de engenharia conceitual para a obra, diante de divergências técnicas entre as duas petrolíferas.