Título: Lula: Não gostaria de ser cortador de cana
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 21/09/2007, Economia, p. 32
Presidente volta a dizer que atividade é melhor que mineração de carvão, mas admite problemas trabalhistas.
BRASÍLIA. Quatro dias depois de dizer que o trabalho nas minas de carvão é tão ou mais degradante que a atividade nos canaviais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao assunto ontem, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Lula utilizou um exemplo do qual havia se valido na Espanha, na segunda-feira, para se contrapor aos críticos.
- Eu pelo menos não gostaria de ser cortador de cana. Agora, as pessoas só vão cortar cana porque não tiveram oportunidade de estudar ou não têm um emprego melhor - afirmou.
O presidente defendeu mais uma vez o programa de biodiesel brasileiro e criticou, sem citar nomes, países que atacam a produção de etanol do Brasil por causa da exploração da mão-de-obra nos canaviais.
Lula admitiu que há problemas a serem superados na produção de etanol, sobretudo na área trabalhista. Uma das dificuldades é equacionar a mecanização no corte da cana com a reutilização dos trabalhadores em outras atividades.
- Tem duas coisas que temos que fazer. Uma é colocar máquina e tirar o trabalhador fora. Ele vai ficar desempregado e será um problema social tão grave quanto o fato de ser degradante o corte de cana.
E emendou:
- E a outra é a gente combinar a mudança de atividade, formando esse profissional para alguma coisa que não seja o corte da cana.
Etanol brasileiro será alvo de ataques, afirma Lula
Apesar de concordar que o trabalho nos canaviais é estafante e degradante, Lula comparou mais uma vez o serviço com a atividade nas minas de carvão, matriz energética utilizada em alguns países europeus e asiáticos.
- Eu preferia trabalhar a vida inteira no corte de cana do que trabalhar numa mina de carvão.
Lula acredita que a expansão dos biocombustíveis brasileiros no mercado internacional provocará ataques de alguns países, que irão criar dificuldades para o Brasil.
- O problema é que vamos ter adversários do programa, é assim no mundo inteiro.
Antes de Lula discursar, o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, fez um relato das discussões do Grupo de Trabalho criado no Conselho sobre temas ligados à bioenergia.
De acordo com Schneider, no mês que vem o Brasil alcançará a marca de 4 milhões de veículos flex. A perspectiva é que, em 2013, essa frota atinja 15 milhões de carros.
- Temos certeza que o biocombustível é uma solução ambiental, econômica e social para o país - afirmou.