Título: Petrobras confirma petróleo leve em Santos
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 21/09/2007, Economia, p. 33

Estatal vai perfurar novos poços. Campo pode ser gigante, com reservas acima de 300 milhões de barris.

A Petrobras pode estar prestes a anunciar a descoberta de um campo gigante de petróleo leve - de melhor qualidade e maior preço no mercado internacional - no litoral paulista. A companhia informou, ontem, que foram concluídos com sucesso os testes realizados em um segundo poço, chamado de extensão, que confirma a existência de um campo com petróleo leve na área Tupi, na Bacia de Santos, a 286 quilômetros da costa sul da cidade do Rio de Janeiro.

Os geólogos evitam falar no volume estimado, mas admitem que é um campo gigante. Fontes técnicas acreditam que as reservas desse campo devem ser superiores a 300 milhões de barris de petróleo.

A descoberta de petróleo nessa área de Tupi tinha sido informada pela Petrobras à Agência Nacional do Petróleo (ANP) em julho do ano passado. Segundo técnicos da companhia, ainda terão que ser perfurados mais dois ou três poços para se delimitar a área do novo campo, assim como suas reservas. O novo campo está a 2.166 metros de distância do nível do mar.

O bloco no qual foi feita a descoberta de petróleo confirmada ontem é operado pela Petrobras (65%), em consórcio com a britânica BG Group (25%) e a portuguesa Petrogal Galp Energia (10%).

Segundo a Petrobras, o segundo poço, que confirmou a existência de petróleo no bloco, foi concluído em junho passado, mas somente agora seus testes foram finalizados. Esse poço está a cerca de dez quilômetros do poço descobridor. Na fase de testes, o novo poço apresentou uma vazão de dois mil barris diários de petróleo e de 65 mil metros cúbicos diários de gás natural. Segundo técnicos, essa vazão é excelente em um poço em testes, considerando-se as limitações e as restrições dos equipamentos utilizados, em função, também, da segurança.

Déficit na balança de petróleo saltou 274%

Somente após a conclusão da avaliação das reservas do campo é que o consórcio terá condições de avaliar se é economicamente viável o desenvolvimento de sua produção. Os dados obtidos até o momento sobre a expectativa do volume de reservas existentes e o fato de o petróleo ser leve indicam que o campo será viável. A produção dessa descoberta, dependendo do projeto, poderá começar em um prazo que varia de sete a oito anos.

A descoberta de petróleo leve é considerada muito positiva dentro da Petrobras, já que as cotações do produto estão acima dos US$80 o barril nos últimos dias. Por sua vez, o petróleo mais pesado, que forma a maior parte das reservas brasileiras, tem uma cotação menor no mercado internacional, de cerca de US$60.

O fato de o Brasil exportar produto pesado e importar o leve piorou a balança de petróleo do país. O especialista Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), observou que o déficit da balança comercial entre as exportações de petróleo e derivados e as importações subiu 274% de janeiro a julho deste ano, em relação a igual período de 2006. Segundo Pires, neste ano o saldo foi negativo em US$1,2 bilhão, contra US$300 milhões nos sete primeiros meses de 2006.

Segundo o especialista do CBIE, de janeiro a julho de 2007, as exportações de petróleo e derivados totalizaram quase US$8,4 bilhões, enquanto, no mesmo período, as importações totalizaram US$9,5 bilhões.

No ano passado, com os preços do petróleo mais baixos do que os atuais no mercado internacional, as exportações de petróleo e derivados de janeiro a julho totalizaram US$7,3 bilhões, contra um gasto total com importações de US$7,6 bilhões.

- O problema é que somos auto-suficientes na produção de petróleo em relação ao consumo. Mas em derivados ainda não somos - destacou Pires.

Estatal não deve aumentar gasolina e diesel agora

Apesar de a Petrobras estar exportando petróleo, Pires destacou que o produto é do tipo pesado, de cotação menor do mercado internacional do que o petróleo leve. O especialista destacou também que as importações de óleo diesel cresceram 41% nesse período, enquanto as do GLP, o gás de cozinha, avançaram 34%, puxando para cima os gastos com as importações.

A despeito dos gastos maiores e das elevadas cotações do petróleo no mercado internacional, não existem riscos de a Petrobras vir a aumentar, no curto prazo, os preços da gasolina e do óleo diesel no Brasil. Graças à desvalorização do dólar frente ao real, segundo cálculos feitos pelo CBIE, a gasolina vendida no Brasil está cerca de 1% mais barata do que a vendida nos Estados Unidos. Já o óleo diesel está em torno de 6% defasado.

O chefe do Departamento de Análise da Brascan Corretora, Felipe Cunha, também não acredita em aumentos dos preços da gasolina e do diesel no curto prazo.