Título: Líderes mundiais debatem aquecimento
Autor: Albuquerque, Carlos
Fonte: O Globo, 21/09/2007, Ciência, p. 38

Terna de reunião que antecede Assembléia Geral da ONU é o caos climático.

¿ BRASÍLIA. Líderes de pelo menos 20 países, entre os quais o Brasil, vão se reunir na noite da próxima segunda-feira, véspera da Assembléia Geral da ONU, em Nova York, para discutir o aquecimento global. Convidado a participar do Jantar, que reunirá algumas das principais lideranças dos países industrializados como o presidente americano George W. Bush, o francês Nicolas Sarlcozy e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotará um discurso menos defensivo e, em alguns casos, pretende partir para o ataque.

Segundo uma fonte da área diplomática, Lula reafirmara a posição brasileira, segundo a qual as responsabilidades são comuns porém diferenciadas no que se refere ao combate de aumento das temperaturas globais. Ou seja, o nível de cobrança imposto às nações industrializadas não pode ser Igual ao dos países emergentes. E defenderá o multilateralismo.

Num claro recado aos Estados Unidos, Lula dirá que e preciso seguir as diretrizes decidir no âmbito das Nações Unidas. Uma delas e o Acordo de Kioto, tratado que Bush se recusou a assinar. Pelo acordo, as nações em desenvolvimento, caso de Brasil, índia e China, não tem metas compulsórias de redução das emissões. Somente os países ricos. O raciocínio empregado para se chegar a esse acordo foi baseado no fato de que as nações desenvolvidas construíram sua riqueza ao longo de décadas sobre a queima de combustíveis fósseis. Os países mais pobres, por sua vez, embora estejam hoje entre os maiores emissores, só começaram a emitir gases-estufa muito recentemente. Não poderiam, portanto, ser responsabilizados pelos atuais efeitos do aquecimento.

Metas de Kioto são muito tímidas

O Brasil está entre os cinco países que mais lançam C02 na atmosfera atualmente. Mas as queimadas respondem por 75% desse volume. Por isso, o presidente brasileiro mostrará números, atestando a queda do desmatamento na Floresta Amazônica. Entre os dados que levará ao encontro, Lula deverá destacar que, de 2005 a julho de 2006, houve uma redução de 25%. Aproveitará para vender a idéia do etanol e outros combustíveis renováveis como forma de reduzir as emissões de carbono no mundo. E reforçará o convite à Rio+20, em comemoração aos 20 anos da Rio 92, em 2012.

Além do Brasil, outros países em desenvolvimento, como China e índia, deverão estar representados. Essas nações emergentes vêm se aliando em um movimento de cobrança de ações mais eficazes dos países industrializados. Rechaçam a idéia de assumirem compromissos multilaterais e exigem maior participação dos EUA no combate ao aquecimento global.

Outras iniciativas no âmbito multilateral poderão surgir, mas atualmente as atenções da comunidade internacional estão voltadas para o acordo que sucederá Kioto. Bush não ratificou o tratado atualmente em vigência justamente porque ele não exige contrapartidas dos países emergentes. E, agora, quer garantir que elas sejam incluídas em qualquer novo acordo internacional. As metas de redução também estão sendo rediscutidas, já que as determinadas no Acordo de Kioto são consideradas tímidas demais pela própria ONU.

A questão ambiental, aliás, terá um peso significativo na Assembléia Geral da ONU. Espera-se que o tema seja citado diversas vezes. Lula, por exemplo, repetirá seus argumentos no discurso de abertura da reunião, tradicionalmente feito pelo Brasil. O presidente também pretende mencionar o aquecimento global nos encontros bilaterais que terá na terça-feira de manhã. Estão confirmadas audiências em separado com Bush, Sarkozy, o presidente da Indonésia, Susilo Bambag, entre outros líderes.

Também serão tratados durante a assembléia, pelos 191 países-membros, temas que visam a contribuir com o desenvolvimento de um mundo mais justo, como o combate à fome, à pobreza, às doenças e ao analfabetismo.