Título: O poder verde da floresta
Autor: Albuquerque, Carlos
Fonte: O Globo, 21/09/2007, Ciência, p. 38

A Floresta Amazônica ficou mais verde depois da forte seca que a atingiu em 2005. A surpreendente revelação é de um estudo, que vai ser publicado hoje na revista "Science". Ele mostra que houve uma recuperação da capacidade fotossintética da vegetação local. Até então, os cientistas acreditavam que o efeito tinha sido outro, com grandes perdas na região. O estudo sugere que a Floresta Amazônica pode ser mais resistente frente a fenômenos de curta duração do que prediziam os atuais modelos de avaliação, que combinam dados do clima e do ciclo de C02. Mais resistente, porém, não significa invulnerável, alertam os cientistas.

Um dos responsáveis pelo estudo é o brasileiro Humberto Ribeiro da Rocha, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). A equipe da qual ele fez parte - composta também por dois cientistas da Universidade do Arizona, nos EUA - usou dados de satélites da Nasa para medir o nível de regeneração na cobertura florestal da região.

- Há uma reação ao estresse hídrico muito mais favorável à sobrevivência da floresta do que se pensava - explica o pesquisador. Essa reação se manifestou na recuperação da capacidade fotossintética das folhas, em uma grande escala na Bacia Amazônica. Foi uma reação positiva do ecossistema.

Em 2005, o Brasil e o mundo foram surpreendidos pela seca que atingiu a Floresta Amazônica, que detém mais de 20% da água doce do planeta. Rios, lagos e várzeas chegaram ao seu nível mais baixo. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Rio Negro esteve no seu nível mais baixo em mais de 102 anos de registro. Barcos ficaram presos no terreno seco. Cidades e comunidades - que dependiam dos rios para sobreviver ficaram isoladas. Mais de 250 mil pessoas foram afetadas pela seca. Em 61 cidades da Amazônia, o governo estadual decretou estado de calamidade pública