Título: Advogado deixa Renan; aliado quer sessão secreta
Autor: Vasconcelos, Adriana e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 22/09/2007, O País, p. 10

Tuma envia a Conselho de Ética dossiê de João Lyra sobre sociedade oculta com senador em rádio de Alagoas.

BRASÍLIA. Um dia depois da absolvição pelo plenário no primeiro processo por quebra de decoro parlamentar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu um de seus fiéis escudeiros, o advogado Eduardo Ferrão. Em carta encaminhada a Renan e só divulgada ontem, Ferrão, que o acompanhava há quase dois anos e meio - desde o início do processo de reconhecimento da paternidade da filha que teve com a jornalista Mônica Veloso - comunicou a decisão de se afastar da defesa do senador para se dedicar aos demais clientes de seu escritório. Renan terá que responder a mais três representações contra ele no Conselho de Ética, mas não contratou ainda outro advogado.

Ferrão articulou a defesa de Renan, no processo que investigou se a empreiteira Mendes Júnior pagara despesas pessoais do senador, e foi responsável pelo acordo fechado na Vara de Família, no primeiro semestre, que fixou novo valor para a pensão de Mônica Veloso.

"Precisamos correr atrás", diz Ferrão em carta

Diante da absolvição de Renan no plenário, em 12 de setembro, o advogado deu por cumprido seu papel. "Precisamos retomar de imediato a rotina do escritório e resgatar alguns clientes que se sentiram deixados de lado em virtude da intensidade da nossa dedicação à sua causa. Resumindo e vulgarizando: precisamos correr atrás", justificou Ferrão em carta a Renan. O advogado elogiou a perseverança de Renan: "Temos certeza de que a "bravura do sertanejo" não se exauriu no texto universal de Euclides da Cunha: ela permanece viva e mora na Península dos Ministros, ali na residência oficial da presidência do Senado", conclui a carta de Ferrão e seu sócio Paulo Baeta.

Com um mês de atraso, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), entregou esta semana ao Conselho de Ética um dossiê de 200 páginas que acusa Renan de usar laranjas para esconder a propriedade de rádios e um jornal, em Alagoas. Trata-se do conjunto de documentos e depoimentos mais consistente contra Renan após a absolvição, avalia a oposição ao senador.

Já se preparando para a nova fase de investigações contra Renan, o senador Almeida Lima (PMDB-SE) entrou ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) com um mandado de segurança pedindo que o voto seja secreto em todas as sessões do Conselho que julgarem mandatos parlamentares. Almeida Lima sustenta que a votação deve ser secreta, já que a Constituição prevê votações fechadas em plenário para casos de cassação.

O dossiê contra Renan foi montado e entregue a Tuma pelo empresário e ex-deputado João Lyra, ex-aliado de Renan em Alagoas. Lyra sustenta que, entre 1999 e 2005, foi seu sócio oculto no jornal e na rádio do grupo "O Jornal".

- As provas são duras e Lyra precisa ser ouvido - disse Demóstenes Torres (DEM-GO).

Entre os indícios de participação de Renan no negócio, há uma cópia de proposta formal feita ao senador, em 1998, pelo então proprietário das empresas, Nazário Pimentel. Lyra diz que, após receber a proposta, Renan o convenceu a montar a sociedade oculta. O negócio foi fechado, diz ele, por R$2 milhões, e o valor dividido meio a meio.

Lyra apresenta recibos de pagamentos a primo de Renan

Para tentar comprovar que a compra foi adiante, Lyra apresenta cópias de quatro recibos de pagamentos feitos a Pimentel por Tito Uchôa, primo de Renan, apontado como laranja do senador. Totalizam R$950 mil, pagos entre março e junho de 1999.

Apesar dos pagamentos, as empresas ficaram no nome de Nazário até 2002. Em maio daquele ano, suas cotas são divididas entre José Queiroz (assessor de Renan) e José Carlos Paes (assessor de Lyra). Em 2005, Paes transfere sua parte para Tito Uchôa. Este é o momento, segundo Lyra, em que Renan assume o controle integral da rádio. Como parte do acordo, Lyra ficou com "O Jornal", que lhe pertence até hoje.