Título: Índios reclamam com Lula no lançamento do PAC indígena
Autor: Taves, Rodrigo França
Fonte: O Globo, 22/09/2007, O País, p. 13

AVANÇOS E ATRASOS NO CAMPO: "Problemas longe do Planalto".

"O povo ianomâmi está com raiva e brabo", diz um cacique.

SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA (AM). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu duras críticas de líderes indígenas ontem, durante reunião em São Gabriel da Cachoeira, quase na fronteira com a Venezuela. O governo pretendia apenas anunciar o lançamento da Agenda Social dos Povos Indígenas, apelidado de PAC indígena. Mas foram os índios que tomaram a palavra.

O cacique David Ianomâmi disse a Lula que seu povo discorda do projeto do governo, em tramitação no Congresso, que regulamenta a exploração mineral em terras indígenas:

- O povo ianomâmi está com raiva e brabo porque o governo está querendo deixar a mineração entrar nas terras dos índios. Não aceitamos isso, porque é perigoso e só vai trazer problema, doenças. O pessoal que entra só quer matar os índios. Pedi para o Lula respeitar a nossa terra.

Depois, num evento no ginásio de esportes, o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, Domingos Barreto, deu um pito em Lula. Ele disse que os índios entregaram à equipe de transição, em 2002, documento com pedidos que jamais foram considerados.

- Cinco anos depois, concluímos que nossas demandas não foram contempladas.

Lula ouviu ainda pedido de providências para a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde produtores de arroz se negam a sair da terra indígena e ameaçam resistir à força à operação anunciada para retirá-los. Lula se defendeu. Disse que os problemas dos índios estão distantes do Palácio do Planalto:

- É muito difícil para um presidente que não recebe índios e negros no Planalto, não como recebe outras pessoas. Se um presidente não pega um avião para ouvir da boca de vocês os problemas, certamente as comunidades indígenas iam continuar esquecidas por muito tempo.

O PAC Indígena prevê investimentos de R$305 milhões da Funai até 2010 em promoção social dos índios e proteção das terras, e de R$200 milhões da Funasa até 2010 em obras de saneamento básico para as aldeias.