Título: BC: US$11 bi devem sair do país este ano por causa de crise dos EUA
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 22/09/2007, Economia, p. 34

Segundo instituição, retiradas cobrirão prejuízos de investidores no exterior.

BRASÍLIA. A crise financeira internacional deve fazer com que saiam do país este ano US$11 bilhões de capital de curto prazo - o chamado capital especulativo -, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Ele disse que, no fim de agosto, o Brasil tinha acumulado um estoque de capital de até um ano de US$49,164 bilhões.

- Parte dessa saída de capitais é decorrente das novas medidas do Banco Central, que diminuíram a exposição dos bancos brasileiros a recursos do exterior. Mas, certamente, parte significativa foi retirada para cobrir prejuízos de investidores no exterior - disse Lopes, que divulgou ontem o resultado do balanço de pagamentos.

A movimentação cambial também começa a sentir o efeito da crise. Em agosto, o saldo dessas operações ficou positivo em US$6,841 bilhões, graças a um superávit comercial de US$6,880 bilhões e um déficit financeiro de US$39 milhões. Mas até 21 de setembro a saída de capitais se acentuou: no período, o fluxo cambial está negativo em US$1,044 bilhão, decorrente de um superávit comercial de US$1,779 bilhão e déficit financeiro de US$2,823 bilhões.

- Em agosto, passamos praticamente incólumes, mas em setembro estamos sentindo alguns impactos - disse Lopes.

Transações correntes tiveram superávit de US$1,354 bi

Por outro lado, o BC espera que os investimentos estrangeiros diretos alcancem US$32 bilhões este ano. Lopes afirmou que não se surpreenderia se fosse ultrapassado o recorde de 2000, quando entraram no país US$32,7 bilhões, em um momento de algumas privatizações. Ou seja, sai capital especulativo e entra capital produtivo:

- Já temos até o momento US$26,488 bilhões de investimentos estrangeiros diretos. Nos primeiros 18 dias de setembro, já entraram no Brasil US$950 milhões e devemos fechar o mês na casa de US$1,3 bilhão, o mesmo patamar para os demais meses do ano.

O Brasil também está mantendo o fluxo de investimentos em bolsas e papéis de longo prazo. Em setembro, foram investidos nesses setores US$ 776 milhões, o que acumula no ano US$23,295 bilhões. O BC revisou para cima sua expectativa deste fluxo - de US$15 bilhões para US$24 bilhões -, mas lembrou que a revisão seria ainda maior se não houvesse a crise. Lopes afirmou que o fluxo ainda será positivo, mas em um ritmo menos acelerado que o anterior.

De acordo com o BC, as transações correntes do país ficaram superavitárias em US$1,354 bilhão em agosto, contribuindo para que o acumulado do ano atinja US$5,05 bilhões. O BC, contudo, reduziu a expectativa de saldo anual de US$10,7 bilhões para US$7,8 bilhões.

Os bons resultados obtidos até agora pelo Brasil têm recebido importante ajuda da elevada reserva internacional brasileira, atualmente na faixa de US$162 bilhões.