Título: Fujimori é extraditado para o Peru
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 22/09/2007, O Mundo, p. 42

Justiça chilena aceita acusações e abre caminho para ex-presidente ser julgado em seu país.

Quase dois anos após sua detenção, a Justiça chilena autorizou a extradição do ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000), que será julgado pelos tribunais de seu país por suposta responsabilidade em casos de violação dos direitos humanos e corrupção. Depois de o juiz chileno Orlando Alvarez ter negado, em julho passado, a extradição solicitada pelo Estado peruano, ontem a segunda sala penal da Corte Suprema de Justiça do Chile deu sinal verde ao pedido apresentado pelo ex-presidente Alejandro Toledo, em novembro de 2005.

A expectativa do governo Michelle Bachelet era que Fujimori abandonasse o Chile na noite de ontem. O ex-presidente seria levado por autoridades chilenas até a fronteira com o Peru, onde seria entregue a agentes da Interpol de seu país.

- Das 13 acusações formuladas pelo Peru, a extradição foi concedida por sete - afirmou o presidente da sala penal, Alberto Chaigneau.

Depois de um longo debate, os tribunais chilenos consideraram que apenas sete dos 13 processos analisados contêm provas contundentes contra Fujimori. Os casos mais emblemáticos e comprometedores são Barrios Altos e La Cantuta, considerados símbolo da repressão exercida pelo governo Fujimori contra seus opositores. Em ambos os casos, atuou o sinistro Grupo Colina, esquadrão da morte que agiu durante o governo do ex-presidente. A Justiça julgará Fujimori pela morte de 25 pessoas, entre elas uma criança de 8 anos. Apesar do revés sofrido ontem, Fujimori, que em maio de 2006 obteve liberdade condicional e se instalou num luxuoso condomínio de Santiago, mostrou-se otimista e disse que graças à decisão da Justiça poderá reencontrar o povo peruano.

- Vou com a consciência tranqüila - disse o ex-presidente, que considerou positivo o fato de ser julgado "por apenas sete casos".

Caso pode aumentar apoio a García

Em sintonia com seus colaboradores e com sua filha, a congressista Keiko Sofia Fujimori, o ex-presidente exigiu "um processo justo" em seu país. Fujimori assegurou que a extradição estava dentro dos seus planos.

- O ideal teria sido (ser extraditado) apenas por um ou dois casos, mas acho que o objetivo foi alcançado - declarou o ex-presidente.

Fujimori admitiu que seu governo "cometeu falhas garrafais", mas disse que provará que agiu corretamente.

Nas últimas semanas, circularam rumores em Lima e Santiago sobre um acordo entre os governos Alan García e Bachelet para acelerar o processo de extradição do ex-presidente. Após permanecer meses em silêncio e receber duras acusações de opositores, em agosto passado o presidente do Peru defendeu publicamente a necessidade de julgar Fujimori, na tentativa de pôr fim aos rumores sobre um pacto do Partido Aprista Peruano (Apra) com os fujimoristas. Desde que assumiu o poder, em julho de 2006, o governo García contou com o fiel apoio da bancada fujimorista no Congresso, fato que alimentou boatos sobre um acordo. Segundo analistas peruanos ouvidos pelo GLOBO, a extradição representa uma oportunidade excepcional para que García, cuja popularidade subiu para 48% após o terremoto de agosto passado, amplie sua base de apoio popular.

- A extradição é uma vitória para García e poderia ajudar o presidente a consolidar sua boa imagem. Para isso, o governo deverá romper a aliança com os fujimoristas no Congresso e buscar outros sócios - explicou Carlos Reyna, professor da Universidade Católica de Lima, por telefone. Na visão de Manuel Torrado, diretor da empresa de consultoria Datum, "hoje nada indica que Fujimori tenha a capacidade e o apoio necessários para relançar sua carreira política".

Uma das grandes incógnitas ontem, em Lima, era o lugar onde ficaria detido o ex-presidente. O procurador anticorrupção do governo, Carlos Briceño, assegurou que Fujimori não ficará numa "prisão dourada."