Título: Governistas ainda cobram mais 65 cargos
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 23/09/2007, O País, p. 8

Em meio à votação da CPMF, partidos aliados negociam postos e já entregaram a lista dos pedidos ao Planalto.

BRASÍLIA. Com a possível aprovação da prorrogação da CPMF na Câmara, em segundo turno, no início de outubro, os partidos governistas esperam que o governo acelere nomeações para cargos federais nos estados e em estatais. Os aliados querem que, após a votação no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclua, finalmente, as indicações de segundo e terceiro escalões. Os pedidos já foram mapeados por líderes e dirigentes partidários e entregues ao Palácio do Planalto. A expectativa é de que sejam feitas, ainda este ano, nomeações para 65 cargos, sendo que algumas delas são alvo de disputa ferrenha entre os aliados.

- Este não é um governo novo. Os cargos já estão ocupados, e a substituição envolve vencer resistências e exige uma negociação prévia - justifica o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, sobre as queixas dos aliados com a demora no cumprimento das promessas.

As pretensões dos partidos são, normalmente, correspondentes ao tamanho de suas bancadas no Congresso. O PMDB, por exemplo, é o que apresenta a maior lista: em torno de 20 cargos. O PT não pede tanto, mas é apontado pelos aliados de Lula como o maior criador de casos, o que atrapalha negociações. E estão entre esses dois partidos as maiores disputas.

Os cargos mais disputados, atualmente, são as diretorias da Petrobras e a presidência da Eletrosul. Na Petrobras, os petistas querem manter Nestor Cerveró na diretoria Internacional e emplacar Alan Kardec na diretoria de Abastecimento. Já o PMDB quer colocar João Augusto Fernandes na Internacional, enquanto o PP quer manter Paulo Roberto Costa na de Abastecimento.

Eletrosul: disputa entre PT e PMDB

Na presidência da Eletrosul, ocupada por Ronaldo Custódio, a briga é, de novo, entre o PT, que quer o cargo para o ex-deputado Jorge Boeira, e o PMDB, que indicou o ex-governador de Santa Catarina Paulo Afonso Vieira. Além dos embates entre os dois principais partidos do governo de coalizão, outras definições são cobradas pelos políticos.

- Nós reunimos a bancada de Minas e indicamos 41 nomes de consenso para os cargos regionais. Apesar disso, quase nada saiu - reclama o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), cuja lista de indicações está há dois meses no Ministério das Relações Institucionais.

Os mineiros distribuíram os cargos de forma a atender cada um dos deputados e senadores, inclusive os suplentes, da base aliada. O vice-presidente José Alencar e o ministro Mares Guia, cujo partido, o PTB, não tem deputados em Minas, também levaram o seu. Apesar da lentidão, a maioria dos aliados decidiu esperar. Mas a bancada do PMDB de Minas está indócil e, na quarta-feira, na votação do primeiro turno da CPMF, ameaçou não votar com o governo.

- O partido está comprometido com a CPMF. Vou cumprir o compromisso de aprová-la. Tenho certeza que nossos pleitos serão atendidos. O mais importante deles é o dos nove deputados mineiros - resume o líder do PMDB, Henrique Alves (RN).

A principal pendência do PMDB, no entanto, envolve a bancada no Senado. O partido aguarda o retorno do ex-ministro Silas Rondeau para a pasta de Minas e Energia. Sua volta depende de seu indiciamento ou não na denúncia que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, vai fazer com base no inquérito da PF sobre a Operação Navalha.

Somente depois disso o partido poderá tratar das nomeações para a presidência da Eletrobrás e da Eletronorte. Os pemedebistas também reclamam um cargo para o ex-deputado José Priante, parente do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA).

- Ele foi para o sacrifício. Disputou o governo e, no segundo turno, apoiou a eleição da governadora Ana Julia. O presidente disse que daria alguma coisa para ele - conta Henrique Alves.

O líder do PP, Mario Negromonte (BA), não teme que o acertado não seja cumprido e já sabe até que um dos cargos para o partido só sairá em dezembro, quando um dos diretores da Anvisa termina seu mandato.

- A CPMF vai ser aprovada tranqüilamente. O presidente Lula disse que o acertado vai sair e nos pediu um crédito de confiança. Mas vou conversar com o Walfrido porque está demorando.

O PR quer um cargo para o ex-governador do Ceará Lúcio Alcântara, ex-tucano recém-filiado ao partido. O governo acenou que ele poderia ocupar um cargo na diretoria da Caixa Econômica Federal e agora a informação é de que será aproveitado no setor elétrico.

O PR, que tem nove deputados na Bahia, cobra pelo menos dois cargos no estado: a representação do Dnit e um cargo na diretoria da Companhia Docas. O líder da bancada na Câmara, Luciano Castro (RR), já conhecido por barganhas explícitas, justifica o pedido:

- Com nove deputados, estradas só não dá, também é preciso navegar.

O PR, que já foi PL, também quer manter o diretor de Engenharia de Furnas, Mário Márcio Rogar. E não passa pela cabeça do partido a possibilidade de seus pleitos não serem atendidos depois que o governo aprovar a prorrogação da CPMF.

- Se resolvermos nossas pendências, estamos no céu, embora tenham nos deixando tempo demais no purgatório. Mas não estamos condicionando à votação da CPMF. Confiamos na palavra do presidente, até porque um governo com três anos e meio de mandato pela frente vai sempre precisar de deputados - diz Luciano Castro.

O PCdoB e o PSB são os únicos que não têm do que reclamar. Para atender os comunistas, o presidente Lula furou a fila e propôs o nome do partido para a diretoria da Anvisa, adiando a pretensão do PP para dezembro.

Já os socialistas ganharam mais do que esperavam, como reconhece o líder Márcio França (SP), referindo-se às nomeações de Luciano Coutinho para a presidência do BNDES e de Sérgio Gaudenzi para a presidência da Infraero.

- Os cargos nos estados são uma fatura para a frente, não vinculamos com a CPMF, tanto que fechamos questão - diz Márcio França.

As expectativas também são baixas no PTB depois da nomeação de Armando Virgílio para a presidência da Susep. O partido fez oito indicações para cargos nas áreas da Agricultura, Saúde, Economia, Energia e Transportes e espera por uma palavra do governo. O partido vive numa situação curiosa: a executiva, liderada por Roberto Jefferson, é de oposição; a bancada do líder do governo, José Múcio (PE), é governista.

- Não abrimos mão (dos cargos), mas também não exigimos. O PTB tem quadros em todos os setores para o governo aproveitar. Não colocamos a faca no pescoço do governo. Mas esperamos ser reconhecidos - diz o líder Jovair Arantes(GO).