Título: Roseana: ação silenciosa para ajudar Renan
Autor: Vasconcelos, Adriana e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 23/09/2007, O País, p. 10

Senadora assume estilo do pai e age nos bastidores.

BRASÍLIA. No cargo de líder do governo no Congresso, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) incorporou o estilo do pai, o senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), ressuscitando, entre os colegas, a máxima: "tal pai, tal filha". Ela, que se esforçou para ter brilho próprio na política, agora prefere, como o pai, atuar nas articulações de bastidores, longe dos holofotes da mídia ou dos microfones da tribuna. Especialmente em situações de crise, como a enfrentada pelo aliado e presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Renan recebeu apoio, conselhos e visitas constantes dos Sarney na residência oficial, mas não ouviu um único discurso a seu favor de nenhum dos dois.

- No Congresso você faz uma opção. Desde que cheguei aqui, optei pela articulação política, trabalho que comecei a desenvolver na época em que meu pai foi presidente. E quem articula na política tem de ser discreto. A tribuna dá muita visibilidade ao parlamentar, mas pode atrapalhar. Não é que não goste de falar - diz a senadora, rebatendo a crítica de um comentarista político que a chamou de "Hello Kitty, a famosa boneca sem boca".

No Senado, críticas ao comportamento de Roseana surgem em conversas de colegas. Mas nenhuma se torna pública, até porque são acompanhadas de frases como "ela é tão gentil".

Comparações com o pai já não incomodam Roseana

As comparações com o senador Sarney já não incomodam mais Roseana como no início de sua trajetória política. Ela precisou trilhar um longo caminho para ter espaço próprio e sair da sombra do pai; problema que já vivia nos tempos de estudante da Universidade de Brasília (UnB), quando se declarou simpatizante do socialismo.

Desde então, foi deputada federal; contabilizou votos que aprovaram o impeachment do ex-presidente Collor; tornou-se a primeira governadora eleita e ensaiou uma candidatura à Presidência, em 2002, antes de se tornar colega de Senado do pai.

- Me orgulho muito do pai que tenho, que me deu independência de pensamento e ação. Faço política por ideal. Mas é fato que, às vezes, confundem a minha pessoa com a dele.

Amigos mais próximos de Roseana Sarney contam que a senadora teria decidido sair dos holofotes de forma definitiva em 2002, quando sua pré-candidatura à Presidência da República foi atropelada por uma operação da Polícia Federal que apreendeu R$1,34 milhão, em São Luís. A apreensão ocorreu no escritório da empresa Lunus, da qual Roseana era uma das sócias, durante a investigação de desvio de recursos da Sudam. Roseana já foi excluída da investigação na Justiça, porque nada foi provado contra ela, mas o episódio a deixou ainda mais cautelosa no jogo da política.