Título: Na ONU, Lula insistirá em mudanças na organização
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 23/09/2007, O País, p. 15

Presidente vai aos EUA participar da Assembléia Geral.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca hoje para Nova York, onde participará da Assembléia Geral da ONU, com a missão de retomar as discussões sobre a reforma das Nações Unidas e de defender as posições do governo brasileiro relacionadas ao aquecimento global. Seguindo a tradição que dá ao Brasil o direito de abrir a reunião, Lula fará terça-feira um discurso de 20 minutos. Paralelamente ao amplo evento, o presidente tentará semear suas idéias numa série de reuniões bilaterais que incluem, entre outros, os presidentes dos EUA, George W. Bush; da França, Nicolas Sarkozy; e a chanceler alemã, Angela Merkel.

Na segunda-feira, Lula terá encontros, a cada meia hora, com líderes de vários países: EUA, Polônia, Coréia do Sul, República Tcheca e Alemanha. No mesmo dia, participará de um jantar com cerca de 20 chefes de Estado, cujo tema central será o aquecimento global. Segundo fontes da área diplomática, Lula dirá que as nações desenvolvidas precisam assumir compromissos maiores que os países emergentes nos acordos de redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. E defenderá o respeito ao multilateralismo, em uma referência velada à saída dos americanos do Protocolo de Kyoto, que prevê metas assumidas pelos países industrializados.

Antes de discurso, encontro com Sarkozy

Terça-feira de manhã, horas antes de proferir o discurso de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, Lula voltará a ter encontros bilaterais. O mais importante será com o francês Sarkozy, que recentemente defendeu a candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Lula tem como trunfo o fato de as Nações Unidas terem decidido, há algumas semanas, dar início às negociações para a reforma da ONU, por pressão do Brasil e cerca de 30 países em desenvolvimento, como Índia, Nigéria e África do Sul. Os brasileiros, que se aliaram a japoneses, indianos e alemães na disputa por assentos permanentes no Conselho de Segurança, esperam ganhar um apoio mais contundente dos africanos. Atualmente, apenas Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido têm esse status.

O presidente também pretende mencionar o Haiti em seu discurso. A posição do Brasil é pela renovação, por pelo menos mais um ano, do mandato da Minustah - a força de paz comandada por tropas brasileiras - que está para expirar. Os brasileiros tomaram a frente no processo de reconstrução do país caribenho em 2004, e a avaliação atual é bastante positiva, segundo uma fonte da área diplomática. Para demonstrar a relevância do tema, Lula enviou ontem ao Haiti o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Além disso, deverá cobrar mais empenho dos países desenvolvidos nas negociações da Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC). Fontes ligadas ao Palácio do Planalto revelaram que o presidente fará uma referência velada, principalmente, aos EUA e à União Européia. Ele cobrará maior boa vontade das nações mais ricas do mundo em relação aos países em desenvolvimento.

Outro tema que faz parte da agenda diplomática brasileira diz respeito às "Metas do Milênio". O presidente levará consigo os últimos resultados divulgados pela Fundação Getulio Vargas que mostram, entre outras coisas, que a miséria no país caiu 27,7% em seu primeiro mandato. Lula deverá mencionar esse dado em seu discurso e pedir mais rapidez nessa empreitada.