Título: Direita e esquerda se revezaram em palestras
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 23/09/2007, O País, p. 16

"No Brasil, as coisas são decididas na última hora", diz diretor.

BRASÍLIA. Dois anos depois de inaugurado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997, o Centro de Estudos Brasileiros em Oxford abriu as portas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o ministro da Justiça, Tarso Genro; e outros petistas, no seminário "O futuro da esquerda no Brasil - O PT depois das eleições de 98". Integrante daquela comitiva, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) torce pela manutenção do núcleo.

- O centro sempre recebeu pesquisadores e representantes de todo o espectro político brasileiro. Espero que ele seja preservado - diz.

O caráter suprapartidário dos estudos é confirmado pela relação de intelectuais que passaram pelo centro. A lista inclui o sociólogo Emir Sader, identificado com a esquerda; o cientista político Sérgio Paulo Rouanet, ministro da Cultura do ex-presidente Fernando Collor; e o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, titular da Fazenda no governo Sarney. Cinco ministros de Fernando Henrique visitaram o núcleo para fazer palestras.

Governo emite sinais contraditórios sobre pesquisa

O apoio oficial à pesquisa brasileira no exterior atravessa uma fase de sinais contraditórios. De um lado, o Itamaraty diz ter aumentado, nos últimos anos, o volume de recursos destinados a instituições que ensinam português e divulgam a cultura nacional. De outro, o Ministério da Educação diz ser preciso investir em bolsas de estudo no país para evitar a chamada fuga de cérebros para o exterior. No mês passado, ao inaugurar um Cefet em Minas Gerais, o presidente Lula disse que a elite condena o investimento em programas sociais e cobra apoio à formação de doutores em universidades estrangeiras.

- Essas mesmas pessoas que criticam o Bolsa Família não criticam uma bolsa de US$2 mil para um doutor se formar no exterior. Não é um contra-senso? Nós temos de cuidar da sociedade como um todo, mas temos de cuidar dos mais pobres em primeiro lugar - disse.

Para o historiador José Murilo de Carvalho, o diagnóstico esbarra no maniqueísmo:

- O Brasil tem que fazer as duas coisas. Não faz sentido que um país candidato a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU abra mão de um centro que o mantém no cenário internacional.

A Universidade de Oxford informou que o núcleo ainda pode ser ressuscitado se conseguir garantia de patrocínio para os próximos cinco anos. Apesar do desânimo, o diretor Leslie Bethell diz manter a esperança.

- No Brasil, as coisas costumam ser decididas na última hora - justifica.