Título: O que falta na rede é gestão, diz secretário
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 23/09/2007, O País, p. 17

Valor de aula não dada pagaria duas vezes transporte e merenda.

RECIFE. De acordo com o secretário de Educação de Pernambuco, Danilo Cabral, o pagamento de aulas não ministradas provoca um desperdício de 18% na folha de pagamento dos 29.697 professores. Em dinheiro, isso representa R$8.354.252,00 jogados anualmente no lixo.

- Com esse estrago poderíamos aumentar em 5% os nossos servidores. Ou adquirir 30 mil computadores, ou construir 40 prédios escolares. Também poderíamos adquirir um milhão de carteiras - afirma Cabral.

Ele informa, ainda, que aqueles recursos poderiam pagar por duas vezes o custo anual com o transporte escolar, e que eles representam o dobro do custo anual com a merenda.

- Observamos que o que falta na rede é gestão - diz.

Ele contou que, devido à grande quantidade de matérias sem professores, muitos eram retirados para preencher lacunas em outras escolas. Terminavam por receber duas vezes. Pelo menos 3.530 estavam nessa situação. Com o reordenamento, eles hoje estão reduzidos a 373 no estado, conforme mapa divulgado na última sexta-feira pela Secretaria de Educação.

Escola ampla da Zona Norte de Recife está às moscas

O secretário diz ainda que o número de 100 mil crianças fora da escola se deve ao mau planejamento na distribuição de colégios. O GLOBO presenciou o problema no bairro de Casa Amarela, Zona Norte da capital. Na Escola França Pereira, a professora Gisele Cavalcanti ensinava na última sexta-feira a apenas seis alunos. Eram sete, mas um deixou os estudos. A classe comporta 40, e seis professores se revezam no ensino de dez matérias. Os alunos nem reclamam. Acham que, com a turma pequena, é mais fácil aprender. O colégio tem 200 alunos em dois turnos, mas duas turmas só têm seis pessoas. Ao lado, o São Miguel, que tem até quadra de esportes, estava às moscas. Não tinha alunos, e uma funcionária descansava deitada na entrada. Muitos estudantes da primeira sonham em estudar no segundo, mais amplo, e bastaria derrubar-se um muro para unir as duas estruturas.

Apesar disso, a Zona Norte está melhor que outras gerências regionais. Segundo o gestor da área, Paulo Dutra, nas 93 escolas faltavam 106 professores. Com o reordenamento, a lacuna foi reduzida para seis, e em 86 não faltam mais mestres, fato corriqueiro antes. No início do ano, em todo o estado 72 escolas foram interditadas por risco de desabamento, e seis chegaram a cair. Segundo o governador Eduardo Campos (PSB), além do desperdício de R$48 milhões por falhas de gestão, o estado desperdiça por ano R$400 milhões devido à má qualidade do ensino, causando evasão e repetência.