Título: Fundos de pensão querem ver o vencedor
Autor: Paul, Gustavo e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 23/09/2007, Economia, p. 34

Entidades tentam garantir entrada após resultado do leilão.

BRASÍLIA. Com dinheiro em caixa e cortejados por todos os investidores privados, os fundos de pensão querem garantir que o edital de licitação das usinas do Rio Madeira assegure sua participação nas obras só depois de conhecido o vencedor. Caso sejam obrigados a se associar antes do leilão, temem entrar no consórcio errado e perder o investimento. O negócio é cobiçado pelos fundos de pensão dos funcionários da Caixa Econômica (Funcef) e da Petrobras (Petros). Os dois têm um patrimônio somado de R$64 bilhões e estão à caça de oportunidades seguras de investimento a longo prazo.

- Estamos pleiteando no edital para entrar a posteriori. Não queremos deixar de participar e, por isso, não pretendemos escolher agora nossos parceiros - disse o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda.

A meta dos fundos é ter uma participação significativa no empreendimento. Cada um almeja entre 10% e 20% do capital da Sociedade de Propósito Específico (SPE) que irá tocar as usinas. Para os fundos, investir em infra-estrutura é ótimo negócio, com retorno garantido por 30 anos e rentabilidade estimada de 12% ao ano. Com a queda dos juros, os investimentos em papéis do governo estão perdendo atratividade.

- É um investimento cujo risco é mínimo, é bem estruturado e casa com nossa necessidade de ter um fluxo de caixa de longo prazo - explicou Wagner Pinheiro, presidente da Petros.

Além dos fundos, o BNDESpar - braço investidor do BNDES - pretende se somar aos vencedores do leilão. Essa é a modelagem que o governo está elaborando para capitalizar o vencedor da licitação e garantir os investimentos necessários às obras. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, revelou que a participação dos fundos deverá ser formalizada depois da publicação do edital da usina de Santo Antônio, prevista para outubro.

O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, disse semana passada que espera a participação de quatro grupos no leilão da usina de Santo Antônio, cada um com uma das empresas do Sistema Eletrobrás - Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul. O único conhecido até agora é o Odebrecht/Furnas.

Do lado privado, além da Odebrecht, os principais protagonistas são a Camargo Corrêa, o grupo francês Suez e a Alusa. A secretária de Direito Econômico, Mariana Tavares de Araújo, aposta que as medidas tomadas para anular as cláusulas de exclusividade entre a Odebrecht e seus fornecedores incentivará a presença desses concorrentes.

O entendimento dentro do setor elétrico é que o vencedor da disputa por Santo Antônio será o virtual ganhador da usina de Jirau, a ser licitada pelo governo em 2008. Afinal, ele terá ganhos de custos consideráveis sobre os demais concorrentes, além do conhecimento tecnológico. (Gustavo Paul e Mônica Tavares)