Título: Alberto Fujimori volta ao Peru após 7 anos
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Fonte: O Globo, 23/09/2007, O Mundo, p. 43

Extraditado do Chile, ex-presidente ficará preso em sala blindada antes de julgamento ser iniciado em Lima

LIMA. Acusado de 13 crimes de corrupção e violação dos direitos humanos, o ex-presidente peruano Alberto Fujimori foi extraditado ontem de manhã do Chile para o Peru - país que deixou em 2000 devido aos escândalos. A aeronave militar transportando Fujimori deixou Santiago às 9h horário local (8h em Brasília) e fez duas paradas, uma no Chile e outra em Tacna, no Peru, antes de seguir para Lima. Em Tacna, a escala foi mais longa do que o esperado porque, segundo a TV peruana, Fujimori sentiu-se mal, teve uma queda de pressão e precisou ser atendido por médicos. O avião só seguiria para a capital à noite, informaram as autoridades peruanas.

Processo antes do réu completar 70 anos

Mais de 300 simpatizantes do ex-presidente cercaram durante todo o dia de ontem estradas e ruas próximas ao aeroporto de Lima para recepcionar Fujimori. Portando faixas com dizeres como "defendemos a inocência de Fujimori" e gritando frases como "chinês (como ele é chamado, apesar de seus pais serem japoneses) valente, aqui está sua gente", os manifestantes tumultuaram o trânsito e entraram em confronto com a polícia.

Uma vez em Lima, Fujimori seria levado à sede da Divisão de Operações Especiais da Polícia Nacional (Diroes), a oeste da capital peruana, onde ficará preso temporariamente até o julgamento, segundo informou ontem o ministro do Interior peruano, Luis Alva Castro. Fujimori responderá a duas acusações de violação dos direitos humanos - entre elas a morte de 25 pessoas por um esquadrão da morte que agiu em prol de seu governo - e cinco de corrupção, todas relativas ao período em que foi presidente. O ex-presidente poderá ser condenado a até 30 anos de reclusão.

O ministro explicou que, conforme as leis do país, a custódia do ex-presidente (que governou o Peru de 1990 a 2000) é responsabilidade do Instituto Nacional Penitenciário (Inpe).

- Cedemos espaço e damos todas as garantias, a segurança e as facilidades para que o devido processo seja cumprido - acrescentou Alva Castro.

Em reportagem publicada ontem, o jornal peruano "La República" disse que Fujimori permanecerá pelo menos 15 dias numa sala blindada, de 50 metros quadrados, na sede da Diroes, até que se decida onde o ex-presidente ficará preso durante o julgamento. De acordo com a polícia, esse setor do quartel será vigiado, em turnos, por 78 agentes armados, especialistas em operações de alto risco.

- O processo contra o ex-presidente por casos de violação dos Direitos Humanos e de corrupção começará dentro de uma semana - declarou a procuradora-geral do Peru, Adelaida Bolívar.

A procuradoria peruana tentará agilizar ao máximo os trabalhos para que o processo seja concluído em menos de nove meses, evitando assim que Fujimori receba o benefício da prisão domiciliar previsto no Código Penal para réus a partir dos 70 anos, idade que ele completa em julho de 2008. A possível obtenção do benefício por Fujimori se transformou em uma das principais discussões em torno do julgamento e é em função disso que a defesa do ex-presidente irá trabalhar estratégias.

Fujimori governou o Peru de 1990 a 2000, quando seu governo caiu em desgraça devido às acusações que sofreu. O presidente renunciou ao cargo via fax, durante uma viagem ao Japão em novembro de 2000. Em 2005, chegou inesperadamente ao Chile, onde foi mantido em prisão domiciliar. Desde então, o Peru pressiona pela extradição, autorizada pela Suprema Corte chilena na sexta-feira.