Título: Oposição centra fogo contra Renan
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 24/09/2007, O País, p. 3

Conselho indicará relator de processo sobre uso de laranjas para compra de jornal e rádio.

BRASÍLIA. A oposição ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu centrar fogo no processo de quebra de decoro parlamentar que apura se o senador foi sócio oculto de uma rádio e um jornal em Maceió ao lado do empresário João Lyra. PSDB e DEM vão pressionar o presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), a designar até a próxima quarta-feira um relator para o caso. A oposição apresentará requerimento da convocação de Lyra, que confirmará as denúncias de que Renan usou laranjas para manter a propriedade das empresas sob sigilo.

Renan enfrenta ainda outros dois processos no Conselho de Ética. No primeiro, é acusado de beneficiar a empresa Schincariol em negociações com a Receita e o INSS. O relator do caso, o senador João Pedro (PT-AM), apresentará um parecer pela absolvição de Renan. O segundo processo - que também ainda não tem um relator - apura a denúncia de que o presidente do Senado tinha participação em suposto esquema de desvio de recursos de ministérios comandados pelo PMDB.

- É preciso definir logo esses relatores de uma vez por todas. Ele (Quintanilha) está empurrando isso - disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), conhecido como ferrenho opositor de Renan.

Para oposição, nova chance de tentar cassar mandato do presidente do Senado

A oposição avalia ainda que a denúncia do uso de laranjas por Renan tem maiores chances de resultar em nova votação de cassação de mandato. O processo tem como base um dossiê com cerca de 200 páginas, feito por João Lyra. A papelada contém documentos que imprimem as digitais de Renan na compra das empresas do grupo "O Jornal" por cerca de R$2 milhões. Entre eles, recibos de pagamentos de R$950 mil para os antigos donos das empresas emitidos em nome de Tito Uchôa, primo de Renan e acusado de ser seu laranja. Naquela época, Uchôa ganhava um pouco mais de R$1,3 mil por mês.

Leomar Quintanilha disse ontem que deve escolher um relator para o caso até quarta-feira, quando o Conselho de Ética se reunirá. Mas ele se recusa a revelar os nomes que sondou. Suas opções são limitadas. PSDB e DEM têm chances remotas, por liderarem a oposição a Renan Calheiros. E os senadores do PMDB de Quintanilha já se expuseram demais até agora em defesa do presidente do Senado. Uma alternativa seria Augusto Botelho (PT-RR), mas o senador ainda não decidiu se assume o posto, considerado delicado.

- Para mim, pelo menos, ninguém falou em pressão. A dificuldade é sempre em relação à multiplicidade dos compromissos - afirmou Quintanilha.

"O tempo corre agora contra Renan Calheiros", diz Agripino Maia

Mas há na oposição quem veja com bons olhos a demora na definição dos processos de quebra de decoro parlamentar. Líder do DEM, José Agripino Maia (RN) diz que, enquanto os trabalhos se arrastam, caminham as negociações para a aprovação do fim de sessão e votos secretos em cassações de mandato.

- O tempo corre agora contra o Renan Calheiros. Quanto mais tudo isso demorar, maiores serão as chances de sessão aberta e voto aberto. Eu não tenho pressa - garantiu ele.

O DEM diz que não aceita a escolha de nenhum dos integrantes da chamada tropa de choque de Renan, especialmente os senadores Almeida Lima (PMDB-SE) e Wellington Salgado (PMDB-MG). Se isso acontecer, diz Agripino, o partido apresentará um voto em separado.

- E aí vamos ver quem leva a melhor. Só que no Conselho de Ética é voto aberto - desafiou o líder do DEM.

A oposição chegou a sugerir o nome de Renato Casagrande (PSB-ES), que integra a base do governo, mas emitiu parecer pela cassação de Renan no primeiro processo, em que ele foi absolvido da acusação de ter despesas pessoais pagas por um lobista. Casagrande, no entanto, comentou ontem que não aceitaria um possível convite:

- Vai ficar parecendo que é uma questão pessoal. E não é.