Título: Novas rebeliões à vista
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 24/09/2007, O País, p. 3

Rapidez nas nomeações na Petrobras irrita aliados, que ameaçam tumultar votação da CPMF.

Numa corrida contra o tempo para tentar concluir esta semana, na Câmara, o processo de votação da prorrogação da CPMF até 2011, com alíquota de 0,38%, o governo terá que enfrentar novas rebeliões na base aliada envolvendo a disputa por cargos e nomeações. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, setores da base ficaram irritados com a manobra da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para garantir a nomeação imediata de Maria das Graças Foster para a diretoria de Gás e Energia da Petrobras e de José Eduardo Dutra para a presidência da BR Distribuidora.

As nomeações de Dutra e Graça eram esperadas, mas sua oficialização - mais uma vez beneficiando o PT - ocorreu enquanto os partidos aliados, em especial o PMDB, também faziam indicações para a Petrobras e obtinham promessas de que as nomeações começariam depois da aprovação da CPMF, para não dar a impressão de que os assuntos estavam relacionados. Agora, a expectativa é de mais pressão dos aliados por cargos.

Antes de embarcar ontem para os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou os ministros a resolver eventuais problemas e garantir a aprovação da CPMF. O governo tem pressa porque, depois de passar por duas votações no plenário da Câmara, a emenda constitucional que prorroga a CPMF até 2011 ainda terá de enfrentar o mesmo processo no Senado, onde a base aliada não tem força para aprovar sozinha a proposta.

Na Câmara - onde o governo tem folgada maioria -, o substitutivo do deputado Antonio Palocci (PT-SP) foi aprovado na última quarta-feira. Falta, no entanto, a apreciação de 20 emendas e dez destaques apresentados ao texto.

- O presidente pediu ao ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) para sanar qualquer rusga e para que saia a votação da CPMF - disse um assessor de Lula.

Na semana passada, o governo também teve que ceder às pressões da base e conter insatisfações para aprovar o texto-base, com um placar de 338 votos a favor - sendo que o mínimo exigido é de 308, por se tratar de emenda constitucional - e 117 contra, além de duas abstenções. O próprio líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), avisara que naquele dia só seria votado o texto-base e que os destaques ficariam para depois, à espera de um avanço nas negociações. No PMDB, de uma bancada de 93 deputados, 86 votaram na quarta-feira, sendo 77 a favor da CPMF.

Nomeações na Petrobras criam mal-estar na base

Para um integrante da base aliada, as recentes nomeações do PT causaram um "mal-estar" e houve uma avaliação equivocada do Planalto. Isso aumenta as pressões. Até agora, tinha vencido a corrente que considera que o melhor é aguardar a votação para fechar as nomeações, principalmente as do PMDB, que quer colocar João Fernandes na diretoria internacional da Petrobras, enquanto o PP quer manter Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento. Além das nomeações de Dilma confirmadas na sexta-feira pelo Conselho de Administração da estatal, o PT, por sua vez, quer manter Nestor Cerveró na Internacional e colocar Alan Kardec justamente na de Abastecimento.

- Essas nomeações na Petrobras já estavam previstas há cinco meses. Não tem nada a ver com CPMF, e duvido que os partidos da base votem contra. A base não daria esse espaço à oposição - disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

O governo terá que driblar a ferrenha obstrução da oposição. A análise técnica da Mesa reduziu de 65 para 20 o número de emendas ao texto. Restam, todavia, outros dez destaques. A preocupação do governo é manter as insatisfações controladas para garantir quórum maior na sessão de amanhã, já que terá sempre que garantir 308 votos na votação dos destaques.

- Nossa meta é concluir a votação esta semana, mas é difícil, por causa da obstrução. Precisamos manter quórum de 308 nas votações até quinta-feira e teremos de convencer os líderes a manter a base no plenário e não viajar - admitiu o vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

- A oposição vai continuar obstruindo. Quanto mais demorarmos para aprovar na Câmara, maior o poder de pressão da oposição no Senado - afirmou Paulo Bornhausen (DEM-SC).

- Continuamos sensibilizados pela dor do brasileiro de pagar a CPMF -- disse o líder do PSDB na Câmara, Antonio Pannunzio (SP).

A partir do dia 1º de outubro, novas medidas provisórias começarão a trancar a pauta da Câmara. Na semana passada, o governo teve de revogar três MPs. No Senado, Katia Abreu (DEM-TO) será a relatora da CPMF e já avisou que não aceita reduzir os prazos de tramitação da proposta.