Título: Lula ao NYT: Não acredito que haja qualquer prova contra José Dirceu
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Fonte: O Globo, 24/09/2007, O País, p. 4

Jornal diz que nem escândalo do mensalão consegue "grudar" no presidente.

Em entrevista publicada ontem no jornal "The New York Times", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que está em Nova York para uma reunião na ONU - afirmou crer que não há provas contra seu ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, no caso do mensalão.

- Não acredito que haja qualquer prova de que Dirceu cometeu o crime de que é acusado - disse Lula. - Ele será julgado.

O jornal americano relata que Dirceu, "que muitos consideram o arquiteto da ascensão de Lula ao poder, foi acusado de ser o cérebro por trás do escândalo de compra de votos" no Congresso. A reportagem diz que o clima político brasileiro tem sido um "caldeirão fervente" para Lula, mencionando o apagão aéreo que se seguiu aos acidentes da Gol e da TAM e o acolhimento pelo Supremo Tribunal Federal da denúncia do mensalão. Conta ainda que, mês passado, a mais alta corte brasileira brasileira aceitou a denúncia contra 40 integrantes do partido do presidente e de partidos aliados, que serão julgados criminalmente.

Entretanto, o jornal diz que nada disso afetou Lula, cuja aprovação está acima dos 60%. "A economia brasileira, a maior da América Latina, cresce 3% a 5% ao ano, e os níveis de endividamento e desemprego estão baixos. E a inflação é um terço do que era há cinco anos".

Esse quadro, "combinado com sua popularidade entre a classe trabalhadora brasileira, deu ao senhor da Silva, um ex-metalúrgico com educação até a sexta série, notável resiliência política", diz o NYT.

- Ele é o presidente Teflon - disse ao jornal o analista político David Fleischer, professor da UnB. - Nada gruda no Lula.

Nem, segundo o jornal, os escândalos como o do mensalão, "que poderia ter debilitado qualquer outra presidência". Mas, também ao "The New York Times", Lula se negou a dizer quem o havia traído.

- Há centenas de empregados à minha volta que nem sequer sei o que estão fazendo - afirmou o presidente brasileiro. ("Um deles, aparentemente, era Dirceu", disse o NYT).

Harmonia na América Latina

Lula disse ainda que a América Latina não precisa de um líder, e sim de entendimento.

- Não estamos em busca de um líder na região. - afirmou Lula. - O que precisamos fazer é criar harmonia política, porque a América do Sul e a América Latina têm que aprender a lição do século XX. Tivemos a oportunidade de crescer, de nos desenvolvermos, e perdemos essa oportunidade. Assim, continuamos a ser países pobres.

Segundo o NYT, Lula refutou a idéia de que deseja ser uma liderança no hemisfério sul e um contrapeso ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Lula não perdeu a chance de alfinetar seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Voltou a dizer que, quando deixar o poder em 2010, não vai lecionar em universidades americanas, mas retornar a São Bernardo do Campo, onde se iniciou na política.