Título: Protógenes fala e não diz nada
Autor: Brito, Ricardo; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2009, Política, p. 5

Em cinco horas de depoimento na CPI dos Grampos, delegado se recusou a responder 49 perguntas dos parlamentares, como envolvimento da Abin na ação

Protógenes Queiros: silêncio graças a habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal O delegado Protógenes Queiroz driblou ontem a CPI dos Grampos. Suspeito de ter cometido abusos na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, ele usou a seu favor decisões judiciais para se furtar a responder sobre a participação de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na ação policial comandada por ele. ¿Me abstenho de responder¿, declarou Protógenes mais de 40 vezes nas cinco horas de depoimento, foi duas vezes aplaudido por simpatizantes e escudado politicamente por deputados e senadores de fora da comissão.

Protógenes negou-se a comentar sobre o acesso de servidores da Abin a informações sigilosas da operação e ao sistema de escutas telefônicas. Tampouco respondeu o porquê de servidores da Abin terem tido acesso a informações sigilosas e interceptações da operação e, ainda, se a ação seria uma ¿missão presidencial¿, como afirmou um depoente no processo que investiga o vazamento de informações da Satiagraha. ¿Ele se escusou de responder as perguntas mais importantes¿, afirmou o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB), que reafirmou o desejo de indiciá-lo por falso testemunho.

Fusão Protógenes refutou que tenha tido como alvo da investigação Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex e a atual ministros da Casa Civil, José Dirceu e Dilma Rousseff. Sem se aprofundar, ele questionou o processo que culminou na fusão das empresas de telefonia Oi e Brasil Telecom, lembrando ter pedido a abertura de uma nova investigação sobre o caso.

O delegado disse que todas as interceptações feitas durante a Satiagraha tiveram autorização judicial e foram fiscalizadas pelo Ministério Público. Citou que a Abin ajudara em 160 operações da PF, cuja cooperação, avalia, está dentro da legalidade. A defesa do banqueiro Daniel Dantas, preso por Protógenes na Satiagraha, tenta anular a operação na Justiça com o argumento de que a Abin não pode participar de uma ação policial. Reclamou das investigações sobre o vazamento de informações da Satiagraha que o levaram, recentemente, a ser indiciado por quebra de sigilo funcional e violação da Lei de Interceptações. ¿A perseguição é visível, não só aos meus olhos, mas aos do povo brasileiro¿, criticou, sem dar o esperado ¿nome aos bois¿.

Coincidentemente, a PF cumpriu ontem oito mandados de busca e apreensão em empresas do grupo Opportunity, controlado por Dantas. O objetivo da ação, realizada no Rio, foi reter livros fiscais de registro da contabilidade das firmas que a PF havia solicitado anteriormente o repasse. Segundo nota da PF, a apreensão de documentos foi necessária depois do surgimento de indícios de que teriam ocorrido transferências irregulares entre empresas do grupo.