Título: Sem Renan, líderes se reúnem para tentar pôr fim a impasse no Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 25/09/2007, O País, p. 4

PSDB e DEM dizem que só negociam com acordo sobre fim do voto secreto.

BRASÍLIA. Na tentativa de contornar a resistência da oposição a negociar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) pretende organizar hoje, na liderança do governo, uma reunião dos líderes partidários. Sem Renan, Jucá acredita que conseguirá fechar um acordo para viabilizar a retomada das votações no Senado, abrindo espaço para a tramitação da proposta de prorrogação da CPMF, em outubro.

PSDB e DEM, porém, adiantam que qualquer negociação passa pelo compromisso de aprovação da proposta de emenda constitucional que acaba com o voto secreto. Além disso, a oposição quer garantir a apreciação de dois projetos de resolução que alteram o regimento interno: o que garante o julgamento de senadores em sessão aberta e o que impõe a parlamentares sob investigação no Conselho de Ética o afastamento de cargos de comando.

- A disposição para a negociação atualmente é pequena - adiantou ontem o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), não esconde sua preocupação com o quadro de confronto instalado na Casa. Na sua avaliação, a ausência de Renan na reunião com os líderes partidários é um sinal claro do enfraquecimento dele na Casa:

- Quando temos um presidente da Casa não participando de reunião de líderes, é uma expressão da crise, mostra o clima em que está o Senado.

Maia: "Temos exigências para flexibilizar a obstrução"

Diferentemente de alguns colegas de partido, como Aloizio Mercadante (PT-SP), que sugeriu na tribuna que Renan se licenciasse até o fim do processo no Conselho de Ética, Viana resiste a externar abertamente seu incômodo com a crise.

O presidente do Senado, porém, não parece disposto a ceder à pressão da oposição e mesmo de parte dos representantes da base governista para que se afaste do cargo. Pelo contrário: mesmo depois de assistir à oposição obstruir a pauta e derrubar a sessão da Casa por dois dias consecutivos, na semana passada, ele chegou a declarar que seu papel é pôr as matérias para votar, e não garantir quórum.

Caso Jucá se comprometa a pôr em votação a PEC que acaba com o voto secreto, democratas e tucanos podem flexibilizar o processo de obstrução que vêm sustentando desde a semana passada.

- Temos algumas exigências para flexibilizar a obstrução. Se elas forem atendidas, poderemos rever nossa posição - admitiu o presidente nacional do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ).

O governo terá de administrar a resistência de boa parte do Senado ao nome de José Pagot para o Dnit - duas tentativas de aprovar a indicação foram fracassadas, semana passada. Há quem defenda que a indicação seja retirada de pauta para facilitar a retomada das votações na Casa.

- A questão do Pagot é de política, e não do Senado - disse Guerra.