Título: Não pode ser sério
Autor: Maia, José Agripino
Fonte: O Globo, 25/09/2007, Opinião, p. 7

Reunido por três dias em São Paulo, no início do mês, o congresso nacional do PT aprovou, entre outras idéias mais ou menos exeqüíveis, a realização de plebiscito sobre a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Privatizada em 1997, quando teve o controle acionário arrematado em leilão por grupo liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale tornou-se em poucos anos uma das maiores empresas privadas brasileiras, com presença e ramificações em quase todos os continentes, batendo sucessivos recordes de produção e produtividade, criando empregos e pagando impostos como nunca em sua história.

Pois agora, que a Vale desponta como exemplo em todo o mundo, setores radicais do PT querem "reestatizar" a empresa.

Seguramente o plebiscito sugerido pelo PT não quererá discutir a privatização, o leilão ou o que quer que seja. O que se pretende é simples e demagogicamente anular o leilão e reestatizar a empresa, dez anos depois, através de consulta popular que certamente não discutirá as regras adotadas nem princípios de legalidade.

Cada votante limitar-se-á a responder se, no seu entendimento, a Vale deve continuar nas mãos da iniciativa privada ou voltar ao controle do Estado.

Como se poderá fazer isso, respeitando os direitos de todos os envolvidos, ninguém sabe. Mas isso são "formalidades" que os "juristas" do PT saberão contornar.

O que avulta e causa espanto, entre as razões a desaconselharem esse passo insensato, é a alegada falta de recursos do governo. Para reestatizar a Vale ou para quase tudo. Não há dinheiro para estradas, para portos ou aeroportos, nem para a educação, nem para a saúde.

Não há dinheiro para as coisas essenciais, mas há dinheiro para comprar a Vale que, sem um centavo do Estado, já emprega gente, recolhe impostos e gera riqueza para os brasileiros? Como entender, diante desse quadro, essa nova e absurda proposta do Partido dos Trabalhadores? Não é, não pode ser sério.

A idéia de reestatizar a Companhia Vale do Rio Doce é dos piores serviços que se pode prestar ao Brasil. Ainda que não prospere, a simples discussão já mostra que, entre a ideologia e o interesse nacional, o PT fica com a demagogia.

Sem contar o fato de que a anulação do leilão, revogando ato jurídico perfeito e acabado, degrada e humilha o país, rebaixando-o à condição de terra de ninguém, espécie de cubata africana, onde contratos não valem e pactos não são cumpridos.

JOSÉ AGRIPINO MAIA é senador (DEM-RN).